Há tipos de suicídio. Muitos são oportunistas. O suicida não está “destinado” ao suicídio, mas um contexto favorável pode maximizar o risco. A presença de armas na residência é um fator que aumenta muito o risco de suicídios. Nos Estados Unidos, dados das emergências hospitalares mostram que tentativas de suicídio com armas de fogo são quase sempre fatais: para cada suicídio, há menos de uma tentativa não fatal.[1]
Tire as armas de fogo da sua casa!
Os dados impressionam: em 1992, nos Estados Unidos, cada seis horas um jovem ou adolescente (10 a 19 anos) se matava com arma de fogo, quatro por dia, 1.426 em um ano.[2] Entre 1980 e 1992, a taxa de suicídios de jovens de 15 a 19 aumentou 28% e de 10 a 14 anos aumentou 120%. Entre jovens negros de 15 a 19, aumentou 165%. Um aumento de caráter epidêmico![3]
Em 1992, as armas de fogo foram responsáveis por 65% dos suicídios de pessoas com menos de 25 anos de idade naquele país. Entre os com 15 a 19 anos, as armas de fogo respondem por 81% do aumento da taxa de suicídios entre 1980 e 1992.[4]
O risco de que um adolescente potencialmente suicida se mate dobra se houver uma arma de fogo na casa.[5]
O aumento na taxa de suicídios completos, nos Estados Unidos e vários outros países, é atribuível ao uso de armas mais letais nas tentativas. A ideia de que os que querem se matar se matarão de qualquer maneira, independente das armas disponíveis, não encontra nenhum apoio nos dados. Mais do que isso, há dados irrefutáveis que mostram que a letalidade das tentativas com armas de fogo é muito mais alta do que com outros meios. No Estado de Oregon, entre 1988 e 1993, 78% das tentativas de suicídio com armas de fogo foram fatais; apenas 0,4% das com overdose de drogas foram fatais.[6]
https://infogr.am/suicidio_a_prevencao_comeca_pelo_meio_mais_letal
Mas as armas de fogo não são usadas em igual proporção nas tentativas de homens e de mulheres: nos Estados Unidos, as armas de fogo são usadas em 65% dos suicídios de homens adolescentes e em 47% nos de mulheres adolescentes, diferença que explica em parte o porquê, em vários países, as mulheres tentem mais o suicídio do que os homens, mas os homens tenham mais alto número (e taxas) de suicídios.[7] Este quadro está mudando, dada a proliferação de armas de fogo: entre 1960 e 1980, o número absoluto de mulheres que cometeram suicídio com armas de fogo mais do que dobrou, ao passo que o número de mulheres que cometeram suicídio com todos os demais meios aumentou apenas 16%.[8]
A maioria dos suicídios de jovens é do tipo impulsivo, sem planejamento ou com pouco planejamento, e 70% ocorrem na residência da vítima. Nessas circunstâncias, o suicídio oportunista ganha peso.[9] Todos esses dados foram publicados em 2007 e já eram conhecidos. Há muito tempo conhecemos as relações entre acessibilidade a armas de fogo e mortes violentas.[10]
Há quase uma década já se sabia sobre a avalanche de suicídios de jovens com armas de fogo muito antes desse artigo, publicado em 11/02/07, já se conhecia essa associação.
A ausência de armas em casa não muda radicalmente a intenção suicida; ela reduz dramaticamente o número de suicídios, retirando do caminho de adolescentes com sérios problemas um eficiente instrumento de morte que em muitos casos seria usado para o suicídio.
GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ
[1] Ver Journal of the American Medical Association, 1995.
[2] Dados retirados de National Center for Health Statistics, 1994
[3] Dados retirados de Centers for Disease Control, 1995
[4] Idem.
[5] Ver Brent, General Psychiatry, 1988
[6] Centers for Disease Control, 1995
[7] National Center for Health Statistics, 1991.
[8] Zimring FE, Health Affairs, 1993.
[9] Dados da University of Minnesota Medical School, University of Minnesota Clinic and Hospital.
[10] Publicado como “O que já se sabia sobre suicídios de jovens e armas de fogo há mais de uma década”, no blog Suicídio: pesquisa e prevenção em 11/02/07.