"Who Made Me Fat?"
Saúde

"Who Made Me Fat?"



Eu tenho muita pena que em Portugal não haja verdadeiro jornalismo de investigação nos media audiovisuais. A BBC é um modelo a seguir nesse aspecto e conta com uma série de documentários muitíssimo interessantes sobre diversos temas, entre os quais a epidemia da obesidade e o lado podre da indústria alimentar. O “Who Made Me Fat?” (que poderia ser traduzido como “Quem me fez gordo?”) é um bom exemplo. Trata-se de um documentário satírico e irónico da jornalista Rebecca Wilcox sobre o ambiente obesogénico em que vivemos. Será o facto de estarmos a engordar apenas culpa do próprio?


Se não aterrou hoje no blogue, já sabe a minha resposta a esta pergunta. A nossa fracção de responsabilidade não é tão grande quanto se julga. Reduzir a questão ao “poder do individuo” é fácil e confortável, mas perigoso. Alimenta o estigma de que somos gordos porque queremos e tudo depende da força de vontade e livre-arbítrio.

O documentário “Who Made Me Fat?” aborda esta questão de forma humorística. A “dieta do estigma” vs a “dieta da conspiração”. Num bar comum nas ruas de Londres, há quem acredite que o estigma e descriminação são positivos. Ao chamarmos alguém “vaca gorda”, ela vai-se sentir presionada a perder peso e tornar-se-á uma pessoa mais saudável. Mais caricato ainda se torna quando quem o diz é um autêntico “porco gordo”. Ridículo, mas não é raro encontrar quem pense desta forma.

Mas que conspiração é esta? Olhe à sua volta e veja como tudo nos empurra para uma alimentação pouco saudável, cheia de açúcar e alimentos processados. Os Jogos Olímpicos de Londres serão patrocinados pela McDonalds, Coca-Cola e Cadburys. É no mínimo bizarro ver atletas de topo nos spots publicitários a comer junk food como se fosse a coisa certa a fazer. Terá a oportunidade de ver alguns no documentário. O efeito “halo” (“auréola") destas campanhas é extremamente lucrativo para estas companhias de junk food mas não é mais do que uma burla alimentada pela sede de dinheiro por parte de quem deveria pensar no consumidor acima de tudo.

Uma outra situação curiosa que felizmente não ocorre no nosso país, pelo menos que seja do meu conhecimento, é a presença da “Burger King” em hospitais públicos do Reino Unido. Os responsáveis evidenciam um grande desconforto em falar sobre o assunto, incluindo o próprio Ministro da Saúde, e recusam todos os pedidos de entrevista por parte da BBC.

Conscientemente ou não para o nós consumidores, os hipermercados manipulam os produtos que compramos. O comércio a retalho é dominado por meia dúzia de companhias que estipulam os preços no mercado. Repare nas promoções e destaques. Antes de chegarmos às carnes e vegetais, lá bem no fundo da loja, já enchemos o carrinho com batatas fritas, bolachas e chocolates. Pague 2 leve 3. Mais 20% de produto grátis. Será apenas nossa responsabilidade resistir à junk food ou deveria também haver uma preocupação por parte de quem vende em favorecer uma alimentação saudável? Não será também uma responsabilidade social?

Ponha-se no lugar de uma família com poucos recursos, uma dessas tantas a viver de subsídios e salário mínimo. Com a responsabilidade de alimentar os seus filhos, que opção faria? Muita junk food ou comida saudável que mal daria para alimentar uma pessoa? Não me parece uma escolha difícil.

Um dos momentos mais interessantes do documentário é quando Rebecca Wilcox soma o açúcar consumido na sua dieta “saudável”. A jornalista é mais uma fitness-dependente e que não dispensa uma larga gama de produtos light. Foi uma enorme surpresa quando descobriu que estava a ingerir mais de 160 g de açúcares adicionados em comida dita “saudável”, quase o triplo da dose recomendada. O engano dos produtos low-fat promove aquilo que é suposto combater. Está a tornar-nos mais gordos e doentes.

Não quero revelar tudo o que poderá ver no documentário. Infelizmente terá de saber inglês. A abordagem da jornalista é de puro senso-comum e a ciência é limitada ao compreensível para qualquer pessoa. Este documentário é muitas vezes citado nos círculos por onde ando como um bom exemplo do ambiente obesogénico dos tempos modernos. Ninguém nos obriga a comer aquela bolacha, mas a verdade é que tudo fizeram por isso.

Fiz upload do documentário para o Youtube mas aqui ficam também os links para download directo através do Rapidshare e Megashare.














Tweet



loading...

- Sugestão De Leitura - "catching Fire: How Did Cooking Made Us Human", De Richard Wrangham
Hoje a recomendação é um excelente livro do primatólogo Richard Wrangham: "Catching Fire: How Did Cooking Made Us Human". Uma falha que eu sempre apontei à "dieta Paleo", na forma como originalmente foi concebida, é a pouca importância dada àquele...

- Fat Head: Documentário Legendado
Aqui fica um documentário controverso sobre a questão das dietas low-fat vs low-carb para perda de peso e na melhoria de alguns parâmetros de saúde cardiovascular. Tom Naughton, para provar a sua hipótese de que o problema está nos hidratos...

- O Bastonário Da Ordem Dos Médicos Defende A Criação De Uma Taxa Para Fast Food
Há uns meses, logo nos primeiros tempos de vida do blogue, escrevi um artigo sobre a taxação da junk food, uma prática instalada em vários países Europeus e estados Norte-Americanos. A Hungria adoptou recentemente essa medida e os jornais não...

- Taxar A Junk Food Poderia Ajudar A Combater A Obesidade?
por Sérgio Veloso Há pouco tempo deparei-me com esta notícia. Stefan Hanna, um político de Upsala, Suécia, propõe no seu blog a introdução de uma “taxa para a obesidade”, de forma a financiar o custo que estas pessoas representam para o sistema...

- + Documentários Relacionados à Alimentação
Eu já fiz um post aqui sobre dois documentários que eu tinha assistido e tinha gostado muito! Aqui eu tenho um programa (ou sei lá como se chama - oi pessoa tecnológica) chamado Netflix que possui milhares de documentários e filmes, e eu curiosa...



Saúde








.