Antioxidantes e exercício: porque não é boa ideia juntar os dois
Saúde

Antioxidantes e exercício: porque não é boa ideia juntar os dois




Quem segue este blog com atenção sabe onde me situo sobre a suplementação com antioxidantes no exercício físico. Até temos por cá um artigo, já antigo, sobre isso mesmo [link]. É uma matéria que também não dispenso nas minhas aulas de Nutrição Desportiva. E para quem não sabe: são bons, quando necessários. E a verdade é que raramente o são, tornado-se até prejudiciais para as adaptações fisiológicas ao exercício físico quando tomados indiscriminadamente. Reavivo este assunto por causa de mais um estudo que confirma e reforça a minha posição. Ao que parece, a suplementação com resveratrol bloqueia os benefícios cardiovasculares do exercício em homens idosos saudáveis [link]. Estranho? Talvez não...

Antioxidantes: benéficos ou prejudiciais para atletas?

A equipa de investigadores partiu da hipótese de que a suplementação com o milagroso resveratrol potenciaria os benefícios induzidos pelo treino. Qual não foi o seu espanto quando os resultados revelaram precisamente o contrário. O grupo placebo, com treino apenas e sem resveratrol, verificou um aumento do VO2 max 45% superior, uma redução superior da pressão arterial, e um perfil lipídico mais favorável. Citando os autores, "enquanto o exercício melhora efectivamente vários parâmetros de saúde cardiovascular em homens idosos, a suplementação concomitante com resveratrol bloqueia grande parte desses efeitos".

Não foi por acaso que pus uma cápsula na imagem e não uma uva ou vinho, alimentos conhecidos pelo teor em resveratrol. As quantidades administradas neste estudo (250 mg), e as usadas como suplemento alimentar,  são impossíveis de atingir no contexto de uma dieta humanamente exequível, e fora de toda uma matriz que compõe o alimento. Lá por o suplemento X provocar "isto", nunca poderemos dizer que o alimento Y que o contém terá o mesmo efeito no organismo. Duas realidades completamente distintas.

Precisamos de entender de uma vez por todas que o stress oxidativo é necessário para que ocorram adaptações positivas ao exercício. Faz parte do processo. É a "agressão" que nos faz adaptar, desenvolvendo capacidades que nos tornam cada vez mais potentes para lidar com esse insulto. Por exemplo, sabe-se que a suplementação com antioxidantes, como a vitamina C e E em doses elevadas, inibe a capacidade antioxidante endógena, uma das adaptações primárias ao exercício. O que faz todo o sentido. Se eu estou a encher-me de antioxidantes, para que vou gastar recursos a desenvolver as minhas próprias defesas? Da mesma forma, a suplementação com vitamina C (1g/d) e E (400 IU/d) reduz a vasodilação induzida pelo esforço. Os antioxidantes podem também inibir o processo de hipertrofia, atenuando o efeito que os radicais livres têm na activação das MAPK, cinases que estimulam a síntese proteica muscular. Não queremos isto pois não?

Os antioxidantes têm obviamente lugar na nutrição e no desporto, quando o esforço ou stress crónico começa a agredir mais do que a nossa capacidade de resposta. Ou quando há carência! Antes de auto-suplementar com doses suprafisiológicas de antioxidantes, sejam vitaminas ou outros compostos bioactivos, há que ter uma boa razão para isso. Seja carência, diagnosticada com análises bioquímicas  e sintomas, ou inflamação crónica. Mas fazê-lo apenas como forma preventiva e em doses muito altas pode sair caro. E no que toca ao exercício sai de certeza. Menos resultados do seu esforço. Eu não sou contra a suplementação com um multivitamínico completo e com antioxidantes em doses baixas como forma de suprir uma dieta pobre. Mas até quando vou ver atletas recreativos a tomar doses brutais de antioxidantes apenas porque sim?





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