Câncer da Próstata: quando só acompanhar
Saúde

Câncer da Próstata: quando só acompanhar


Recebi da Dra. Sonia Ferraz de Andrade
Autor: Nick Mulcahy
Publicado em 06/18/2010
Os resultados de dois novos estudos em homens com baixo risco de câncer de próstata sob vigilância ativa devem dar alguma confiança aos médicos usando esse tipo de tratamento.
Os dois estudos, um publicado em um grande jornal e outro apresentado no Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia em 2010, possuem distintos desenhos e resultados a serem medidos.
Contudo, nos dois casos, esses achados servem para clarear os riscos quando homens que tem um câncer de baixo risco deixam de ter um tratamento ativo.
O primeiro estudo é um estudo de coorte nacional baseado da população da Suécia que foi publicado online no Journal of the National Cancer Institute.
O estudo de observação comparou homens com câncer de risco baixo ou intermediário tratados com vigilância ativa ou espera atenta com homens que realizaram prostatectomia ou terapia de radiação.
Os investigadores suecos encontraram retrospectivamente que em homens com câncer de próstata localizado e de baixo risco (T1, escore de Gleason ≤6, e antígeno específico de próstata [PSA] <10 ng/mL), a mortalidade de câncer de próstata específica foi de 2,4% (95% intervalo de confiança, 1,2% - 4,1%) nos 1085 pacientes no grupo de vigilância e 0,7% (95% IC, 0,3% - 1,4%) nos 1601 pacientes no grupo de tratamento. À pesquisa “soma-se a crescente lista de estudos com base populacional e dados em resultados de longo prazo” para homens com doença localizada, notam Siu-Long Yao, e Grace Lu-Yao, em um editorial que acompanha o estudo. Dr. Yao é do Merck Research Laboratories em Kenilworth, New Jersey, e Dr. Lu-Yao é do from Cancer Institute de Nova Jersey na Universidade de Medicina de Nova Jersey em New Brunswick. "Provavelmente, o achado mais importante desse estudo e de vários outros  prévios, contudo, é  que a sobrevivência na maioria (e.g., Gleason ≤7), mas não em todos os casos (e.g., Gleason 8–10), em pacientes com doença localizada administrada conservadoramente é agora similar àquela dos pacientes controle cruzados por idade," escrevem os editorialistas, fazendo referência a homens administrados com vigilância ativa comparados a homens com doença de baixo risco tratados com cirurgia ou radioterapia. Uma maior proporção de pacientes saudáveis foi designada para tratamento e por isso podem ter acontecido resultados piores no grupo de vigilância ativa, sugeriram os autores, liderados por Pär Stattin, do Hospital da Universiade Umeå na Suécia. "Pacientes com uma pequena expectativa de vida foram mais facilmente selecionados para vigilância dos que para cirurgia ou terapia de radiação,” eles escrevem. Apesar disto, tentativas de ajuste para isso nas analises estatísticas não produziram estimativas de risco que fossem “materialmente diferentes” de análises não ajustadas, relatam os autores. Os investigadores suecos concluíram que a estratégia de vigilância ativa “parece ser adequado para muitos desses homens," ao se referir aqueles com doença de baixo risco. Contudo, o Dr. Stattin e colegas avisam que o seguimento médio no estudo foi de 8,2 anos e porque “a maioria dos pacientes atualmente diagnosticados com câncer de próstata localizado, tem idades entre  60 a 70 anos e uma expectativa de vida de mais de 15 anos, um seguimento maior faz-se necessário.” Outro estudo de homens com câncer de próstata de baixo risco foi apresentado na reunião da ASCO. O Estudo de Centro Único (Johns Hopkins em Baltimore, Maryland) comparou os resultados cirúrgicos de homens com câncer de baixo risco tratados com vigilância ativa que, eventualmente realizaram uma prostatectomia radical tardia como tratamento para sua doença, com os resultados cirúrgicos dos homens que realizaram a cirurgia imediatamente.    Nesse estudo, investigadores perguntaram se a vigilância ativa compromete as chances de cura em homens com câncer de próstata de baixo risco que escolhem essa estratégia inicialmente, mas eventualmente realizam a prostatectomia radical. A resposta depende das circunstâncias que levam homens a eventualmente realizar a cirurgia, explicou Bruce Trock, da Universidade Johns Hopkins de Medicina. Desde 1995, 772 homens entraram no programa de vigilância ativa do Johns Hopkins, que é a maior coorte nos Estados Unidos, disse o Dr. Trock. Ele explica que o programa tem um dos “critérios mais conservadores” entre as coortes. Para serem eleitos os homens devem ter um escore Gleason de 6 ou menos, 2 ou menos núcleos positivos, 50% ou menos envolvimento de qualquer núcleo com câncer, e PSA com densidade menor que 0,15. Os homens são submetidos a novas biópsias, anualmente, e qualquer aumento nos parâmetros supracitados suscita uma recomendação para tratamento. Em um seguimento médio de 2 anos, 116 (15%) homens realizaram a cirurgia tardia— 43 por causa de um  escore Gleason maior numa biópisa repetida, 48 em razão de alguma outra mudança na biópsia, e 25 por causa de razão pessoal em mudar. A patologia cirúrgica desses 116 pacientes foi comparada com os resultados cirúrgicos de 348 homens que realizaram a cirurgia imediatamente. Os investigadores encontraram que os 116 homens que inicialmente administraram a doença com vigilância ativa e depois trocaram para cirurgia tinham maiores chances de serem diagnosticados com um tumor à distância (P = 0,009) e um tumor de alto grau (P = 0,0001) do que homens que realizaram a cirurgia imediatamente.   Todavia, essas aparentes notícias ruins são facilmente explicáveis e isso é balanceada por outro achado do estudo, Dr. Trock reportou. "Quando homens com doença de baixo risco realizam a cirurgia a qualquer tempo, nos descobrimos que historicamente 25% deles terá, na realidade, um tumor de grau maior ao encontrado na biópsia, “ ele disse. Isso ocorre porque uma “biópsia é o resultado da punção randômica de agulhas na próstata” ele disse, adicionando que a biópsia é realizada de acordo com um padrão que tem como intuito realizar a amostragem das regiões onde é mais provável encontrar um tumor. “A porção da próstata em que é realizada a biópsia é uma porção muito pequena do órgão,” ele explica, adicionando que as biópsias em câncer de mama, por exemplo, são muito mais precisas pois são guiadas por lesões vistas em imagens ou palpáveis.   Então os investigadores do Johns Hopkins realizaram uma análise adicional: eles excluíram 43 dos 116 homens que tiveram elevação nos escores de Gleason de 7 ou mais na biópsia de seguimento. Eles encontraram que os 73 homens restantes tiveram “resultados patológicos cirúrgicos similares aos pacientes e prostatectomia imediata.” Isso é uma ótima notícia sobre vigilância ativa, nota o Dr. Trock. "Homens em vigilância ativa que continuam a mostrar um tumor de baixo grau segundo o escore de Gleason, possuem o mesmo risco de encontrar um tumor de alto grau quando aqueles que realizam a cirurgia imediatamente,” ele explicou. Dr. Trock relatou que na coorte de 772 homens em vigilância ativa no Johns Hopkins, o risco de um tumor de alto grau ser encontrado na biópsia e seguimento ou em prostatectomia radical é de 4,5% por ano de seguimento. Em razão do fato de ter ocorrido um seguimento médio de 2 anos entre homens que trocaram o tratamento para cirurgia, há um outro importante achado, afirma o Dr. Trock. "O risco de um tumor de alto grau não crescer com o tempo em que o indivíduo está no programa de vigilância ativa antes da cirurgia”. O estudo sugere, disse o Dr. Trock, que "a maioria dos tumores de alto grau encontrados na cirurgia realizada em homens que estavam sob vigilância ativa estavam presentes no momento do diagnóstico, mas foram diagnosticados como menores pela biópsia e não progrediram de um tumor de menor grau em razão do atraso na realização da cirurgia.” Contudo, o Dr. Trock notou que não está claro se ocorreu uma progressão da doença, e se ela ocorreu, em qual porcentagem dos homens.   J Natl Cancer Inst. Published online June 18, 2010.American Society of Clinical Oncology (ASCO) 2010 Annual Meeting: Abstract 4506. Presented June 6, 2010.



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