Saúde
Estás em Overtraining? Questionário de diagnóstico simples
Todos conhecemos as consequências do sedentarismo e falta de actividade física, mas poucos estão familiarizados com os problemas que advêm do treino excessivo, ou sequer com o significado de overtraining. Não é estranho já que não se trata de um conceito fácil de definir, ou um síndrome fácil de identificar. Quando o esforço supera a capacidade de resposta do organismo, a agressão e stress físico desencadeiam respostas defensivas que se tornam deletérias. E esta capacidade de resposta pode ser maior ou menor, determinada por uma série de factores individuais e influência de outros factores de stress da nossa vida. Um controlador aéreo não tem a mesma capacidade em lidar com o esforço físico suprafisológico como um jogador de futebol, que tem este desporto como a sua única ocupação. Nem aqui somos todos iguais.
Os sintomas de overtraining são muito abrangentes e pouco específicos, o que complica o seu diagnóstico de uma forma expedita. Além disso, é difícil para um atleta, recreativo ou profissional, aceitar que está num estado de fadiga central provocado pelo treino mal periodizado, nutrição deficiente, ou repouso desajustado ao stress induzido. Daí também que os principais afectados não sejam os atletas com acompanhamento profissional, mas sim os recreativos que não conhecem ou aceitam os seus limites. Outros são quem faz da actividade física sua profissão, como os group trainers.
Alguns sintomas comuns: fadiga, depressão, insónias, dificuldade de concentração, tonturas, oscilações do ritmo cardíaco, alterações de apetite, ansiedade crescente, espasmos/fasciculações, irritabilidade, sensação de enfartamento ou "aperto na garganta", sudação em repouso, dores articulares e musculares.
Em relação a este último da lista, manifesta-se essencialmente em repouso e não em esforço. As endorfinas produzidas durante o exercício superam o limiar dos receptores opióides e inibem a dor. Apenas quando os níveis baixam em repouso é que sentimos os sinais da agressão.
Deixo-vos também, e na verdade foi apenas para isto que vos escrevi hoje, um simples questionário de diagnóstico de overtraining. Na verdade, ainda se trata da melhor ferramenta de avaliação pois não existem parâmetros bioquímicos convencionados e valores de corte. No entanto, um profissional poderá usar indicadores como:
- Rácio testosterona livre/cortisol
- DHEA/cortisol
- Diminuição da excreção urinária de catecolaminas overnight
- Sensibilidade dos receptores de serotonina
- Diminuição do rácio Gln/Glu (glutamina/glutamato) no plasma
- Redução da hemoglobina e hematócrito, decorrente das alterações hormonais
- Diminuição da T3L
... Entre outros que falaremos em artigos posteriores. Aqui fica então o questionário:
Como interpretar? Mais do que 15 respostas positivas é um alerta, mais de 25 sinal de preocupação e momento para descansar. Adianto que sair de um estado destes pode levar até 6 meses em repouso, ou com treino muito ligeiro. Claro que nem todo o tipo de treino é igual, mas isso é tema para um outro artigo.
Muito mais há a dizer sobre o síndrome de excesso de treino, uma condição não tão rara como esperava quando comecei a aprofundar o meu trabalho na área desportiva, mesmo em "simples" frequentadores de ginásio. E, a meu ver, as principais causas são a falta de acompanhamento especializado, pouca sensibilidade dos profissionais para a questão, e total desconsideração pelos sinais que o nosso corpo nos dá. Ele diz-nos tudo o que precisamos de saber e avisa-nos com a antecedência necessária. Nós é que somos surdos para ele.
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