Saúde
O "Peso Pesado": as minhas primeiras impressões e expectativas
Começou ontem na SIC o programa “Peso Pesado”. Conheceram-se os participantes e levantou-se um pouco do véu que tanta expectativa criou no público. Prevejo que o concurso, porque não é mais do que isso mesmo, um concurso, crie furor e quem sabe até motivação para um estilo de vida mais saudável e activo. Para ser sincero, não gostei muito do que vi ontem, mas espero que tenha sido ainda um contacto muito superficial e que o objectivo mais nobre do programa não se desvirtue no meio de tanto sensacionalismo e apelo à compaixão.
Para ser sincero, o “Peso Pesado” não é de todo o meu tipo de programa. Não suporto reality shows e a minha vida já me preocupa o suficiente para me interessar pela dos outros. À semelhança do que acontece com o original Americano, o “Peso Pesado” usa e abusa do turbilhão de emoções que se geram à volta do drama de ser gordo. Isso tem prós e contras. Por um lado cativa a parte humana dos espectadores e mostra um pouco do sofrimento que é ser gordo numa sociedade que cultiva tanto a imagem. Mas existe também um lado perverso que estigmatiza o obeso e faz com que seja visto como “diferente”.
A relação entre os participantes e a comida também está a ser explorada em demasia e de forma simplista. Todos sabemos que a comida é um refúgio para as amarguras da vida que gera uma bola de neve. Comemos para aliviar as tristezas que o ser gordo nos traz. Este lado psíquico é muito tentador mas reduz o fenómeno da obesidade a algo muito perigoso. Fica implícito que ser obeso é apenas uma questão de força de vontade, de opção, e que perder peso só necessita de perseverança. Esta é a razão número um para o estigma da obesidade, uma doença multifactorial que depende não só do excedente energético como da qualidade (tipo) dos alimentos, factores socioeconómicos, ambientais e também genéticos.
Mas o “Peso Pesado” tem um lado virtuoso que merece ser exaltado. É uma oportunidade de mudar a vida de um grupo de eleitos e aumentar a sua auto-estima. Não são apontadas soluções milagrosas e terapias mágicas que queimam a gordura em poucas semanas. Isso não existe. Pelo contrário, é apontado o caminho do esforço e dedicação, uma lição que fica para a vida e não se limita à perda de peso.
Na verdade, a mudança individual que eventualmente ocorrerá nos participantes pouco importa. Deixo isso para eles se preocuparem e felicitarem. Não sou egoísta, apenas não tomo as árvores pela floresta. Vejo no “Peso Pesado” um enorme potencial para despertar o interesse da população no que são hábitos de vida saudável e provar que o esforço compensa. E trata-se de uma população que bem precisa já que ter excesso de peso passou de excepção a regra.
Para ser sincero, a abordagem que aparenta ter sido adoptada pela produção não me parece a melhor. Quem acompanha este blogue facilmente compreende porquê. Não vou comentar agora a dieta mas irei faze-lo num próximo artigo. É um aspecto de grande importância e que diferencia um regime com resultados para a vida de um com efeitos rápidos mas efémeros. O que mais me assustou no ginásio foi não ter visto um único peso livre e estar atafulhado com máquinas de cardiofitness. Tenho esperanças que eles estejam por ali escondidos algures e que o treino de resistência muscular assuma o importante papel que tem para uma vida saudável, plena e "magra". A versão Americana não descurou esse aspecto e espero que não o façam aqui. É com grande satisfação que vejo os concorrentes Americanos a treinar HIIT e crosstraining, algo que me surpreendeu pela positiva e conquistou o meu respeito pelo programa.
Podia também ser um pouco má-língua e, como já tenho lido por aí, dizer que os treinadores poderiam estar em melhor forma. Mas não vou cair nessa tentação. A competência de um profissional do desporto não se avalia pela forma física. Claro que um treinador com um corpo atlético seria mais cativante para quem está de fora, mas ao mesmo tempo serviria para vender uma ilusão e um estereótipo. O Rui Barros é uma pessoa com uma aparência totalmente vulgar e um modelo que qualquer pessoa pode atingir. Esta “vulgaridade” pode ajudar a criar uma ligação entre os concorrentes e os treinadores, um aspecto imprescindível para o sucesso do treino e motivação. É muito cedo para comentar a qualidade da equipa e dou-lhes o benefício da dúvida e um voto de confiança. Espero é que tirem os alteres e pesos da cartola rapidamente…
Mas muito me admirava se algo de ridículo não se tivesse passado. Falo obviamente do “comando”, uma personagem pitoresca que só pode ter saído de uma mente conturbada. Mas quem se lembraria de uma coisa daquelas? Pergunto-me qual será o papel dele no programa mas não prevejo que venha coisa boa.
Quanto à apresentadora, encaixa no programa que nem uma luva. Não me lembro de ninguém melhor para apresentar um programa deste tipo, o que não é propriamente um elogio mas a constatação de um facto. Uma óptima escolha da SIC que lhe paga por mês tanto quanto será o prémio do vencedor do “Peso Pesado”. Eles lá saberão os retroactivos que têm.
Não vou falar sobre os participantes individualmente porque, como já disse, isso pouco me interessa. Estou mais atento ao fenómeno social que pode emergir do programa. Pareceu-me um grupo de obesos comuns, com as suas histórias de vida, e com quem muita gente se vai identificar e acarinhar. Mas façam-me um favor… não se exponham demasiado porque o sentimento de “pena” é demasiado degradante, embora muito apelativo para a produção de um reality show. Pelo menos é assim que eu penso e encaro a vida.
Este será o primeiro de vários artigos sobre o “Peso Pesado”. Não sei se vou ser um espectador assíduo mas não vai ser difícil manter-me a par dos desenvolvimentos mais recentes do programa. Apesar de não concordar com os meios, não me podia identificar mais com o fim. Aguardo com expectativa a resolução desta temporada e especialmente o impacto que terá na comunidade. Potencial não lhe falta, só espero que seja aproveitado da melhor forma.
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