Paula Span publicou um excelente artigo sobre como as pessoas torcem a informação que lhes é dada pelos seus médicos. Foi publicada em End of Life Care, de novembro de 2012.
Comecemos enfatizando que a comunicação entre médicos e pacientes nos Estados Unidos tende a ser diferente da que observamos no Brasil. Lá, os médicos não douram a pílula: pão-pão, queijo-queijo!
No que concerne pacientes de câncer do pulmão e do cólon com Estágio IV, químio não salva, não conduz à cura. Aumenta a sobrevivência em semanas ou meses e produz efeitos colaterais pesados.
Numa pesquisa com mil e duzentos pacientes com canceres adiantados foram feitas várias perguntas. No que concerne à probabilidade de que a quimioterapia curasse o câncer a única resposta correta seria “nenhuma”. Não foi isso o que os pacientes responderam. Nada menos de 69% dos pacientes com câncer do pulmão e de 81% dos pacientes com câncer do cólon não entenderam o objetivo do tratamento que seguiam.
Em cada nível educacional, o erro era maior entre pacientes negros e hispânicos do que entre pacientes brancos, sugerindo que fatores culturais explicavam parcialmente as diferenças entre as pessoas. Ironicamente, foram os pacientes que compreenderam mal as instruções os que deram nota mais alta à capacidade de comunicação dos mesmos.
A escolha entre fazer e não fazer quimioterapia em pacientes com canceres tão avançados é uma escolha dos próprios pacientes informados pelos médicos. Nesse nível, a químio é paliativa e não curativa. Como os efeitos colaterais são pesados, há uma escolha real que deve levar em conta os benefícios e os malefícios.
Muitos pacientes ouvem o que querem ouvir, sendo provável que suas redes familiares e de amigos reforce as interpretações mais favoráveis (e nada realistas). Os médicos e outras pessoas da área médica devem se preparar para enfrentar essa ilusão.
GLAUCIO SOARES IESP-UERJ