Realmente, pesquisadores e a indústria farmacêutica entraram firme no desenvolvimento de novos medicamentos contra o câncer da próstata durante os últimos anos. No congresso anual da European Society for Medical Oncology (ESMO) foram apresentados trabalhos provando que dois novos agentes atuam contra o câncer da próstata, o ODM-201 e tasquinimod, sobre o qual já escrevi um pôster.
Uma das duas pesquisas foi de Fase I/II. Tentava verificar qual a dosagem adequada do ODM-201, que é um antagonista de receptores de andrógenos. Foi testado em pacientes que já não respondiam à terapia antihormonal e cujos canceres mostravam avanços perigosos. Esses canceres são chamados de “progressive metastatic castration-resistant prostate cancer (mCRPC)”. Em 12 semanas houve redução significativa (>50%) em 13 dos 15 pacientes, ou 87% - inclusive seis que já haviam passado pela químio (docetaxel). Todos os pacientes tiveram uma resposta positiva, seja ausência de avanço do câncer, seja redução do câncer indicada pela diminuição do PSA. ODM-201 é um medicamento oral, tomado duas vezes por dia. Em junho começaram a Fase II desse projeto, cujo objetivo é testar o medicamento em cem pacientes avançados.
Baseados em testes com animais, concluíram que o ODM-201 não entra no cérebro, uma vantagem. Fica a importante pergunta sobre a utilidade do medicamento em pacientes sem metástase.
Já demos notícia, nesse blog, sobre outro medicamento em desenvolvimento, o Tasquinimod.
Os resultados mostram que o Tasquinimod também apresenta algumas promessas. Uma análise da angiogênese e de marcadores do sistema imune, mas os pacientes são diferentes.
Diferentes como?
Não haviam feito químio e eram assintomáticos.
Os resultados são positivos, mas sem entusiasmar. A sobrevivência total, que era de 30,4 meses no grupo placebo, era três meses maior no grupo experimental (33,4 meses). Esse resultado não é estatisticamente significativo. Não obstante o benefício é maior entre os pacientes que tinham metástase óssea: 27,1 meses vs 34,2 meses. Os melhores resultados foram aos seis meses: 37% do grupo controle não tinha avanço no câncer, bem menos do que os 69% no grupo experimental. Esse resultado, sim, era estatisticamente significativo (P < 0,0001).
Qual a vantagem no tempo até o câncer voltar a avançar? A mediana (metade dos pacientes menos, metade mais) no grupo controle era de 3,3 meses, bem menos do que no grupo experimental, 7,6 meses, diferença que também é significativa (P = 0,0042).
Há uma pesquisa maior em andamento. Querem chegar a 1.200 pacientes. Já conseguiram mil.
Um famoso especialista afirmou que, se os resultados forem iguais ou melhores, que muitos pacientes tentarão evitar a químio usando o tasquinimod.
São vários os medicamentos já aprovados pela FDA, em vias de aprovação e os que iniciam as pesquisas. Todos ajudam, aumentam a sobrevivência, retardam o avanço do câncer, reduzem os efeitos negativos, inclusive a dor, mas ainda não temos promessa de cura.
GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ