A chamada “programação metabólica”, propõe que o ambiente gestacional tem efeitos permanentes sobre a estrutura, fisiologia e metabolismo do indivíduo e que alterações neste ambiente podem gerar consequências para toda a vida.
Estudos demonstram que fatores como o estresse, exposição a substâncias tóxicas, alimentação inadequada e descontrole hormonal durante a gestação podem comprometer ou alterar o desenvolvimento fetal e, consequentemente, predispor ao aparecimento de diversas doenças na idade adulta, tais como
- doenças cardiovasculares
- hipertensão arterial
- colesterol elevado
- diabetes
- câncer
- depressão.
Já se sabe, por exemplo, que o excesso de peso do bebê na vida intrauterina está relacionado ao excesso de peso na fase adulta, bem como maior predisposição a alergias, asma e doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. O excesso de peso ao nascer também está correlacionado ao aparecimento de diabetes e Síndrome dos Ovários Policísticos, uma das principais causas de infertilidade entre as mulheres.
Assim como o excesso, a falta de nutrientes também pode gerar consequências. Pesquisas demonstram que bebês nascidos com baixo peso têm um maior risco de apresentar doenças cardíacas, resistência insulínica, diabetes do tipo 2, hipertensão arterial, problemas no fígado, alterações do colesterol e triglicerídeos plasmáticos. A restrição de nutrientes na gestação também pode predispor ao aparecimento de obesidade e fome exacerbada na idade adulta.
Além dos fatores nutricionais, a exposição a xenobióticos (toxinas) na vida intrauterina é outro fator frequentemente relacionado ao surgimento de doenças, principalmente câncer e problemas neurológicos. Os xenobióticos são quaisquer substâncias estranhas ao organismo e que, infelizmente, estão amplamente presentes em nosso dia a dia. Podem ser encontrados na fumaça do cigarro, na poluição, nos agrotóxicos presentes nos vegetais, nos medicamentos, nas embalagens de plástico utilizadas para guardar alimentos, nos aditivos alimentares (corantes, conservantes, flavorizantes, edulcorantes) e até nas embalagens dos alimentos industrializados.
Outro fator comum no estilo de vida atualmente, e que é extremamente nocivo durante a gestação, é o estresse. Estudos sugerem que ele seja capaz de aumentar as chances de aparecimento de doenças tanto físicas quanto mentais. De fato, todas as experiências emocionais durante a gestação vão influenciar a saúde mental da criança.
E essas alterações ocorridas durante a gestação, sejam elas por uma nutrição inadequada, exposição a substâncias tóxicas ou estresse, podem modificar inclusive as características genéticas do bebê. Os estudos demonstram que, quando há uma alteração no ambiente intrauterino que predispõe o aparecimento de determinada doença na vida adulta, a tendência de desenvolver esta doença é passada para os filhos e netos.
É claro que estas alterações não significam um atestado de que o indivíduo apresentará a doença. O aparecimento de determinada patologia irá depender, além da vida intrauterina, dos hábitos adquiridos durante toda a vida. Entretanto, estudiosos arriscam dizer que algumas doenças como hipertensão arterial e diabetes são fortemente relacionadas com o peso ao nascer, independentemente do estilo de vida na idade adulta.
Se você já programava fazer alguns ajustes no seu estilo de vida antes de engravidar, imagine agora com as descobertas sobre a programação metabólica! Durante a gestação, tudo o que você come, pensa, sente e respira pode estar definindo o futuro não apenas do seu filho, mas também dos seus netos e bisnetos…
*Texto elaborado pela Dra. Gisele Pagliarini Silva, aluna bolsista do curso de Pós-graduação em Nutrição Clínica pela VP Consultoria Nutricional/ Divisão Ensino e Pesquisa.