Ranking de dietas no US News: Paleo em último? O Dr. Cordain diz que não (e eu concordo)
Saúde

Ranking de dietas no US News: Paleo em último? O Dr. Cordain diz que não (e eu concordo)



Há poucos dias, a US News publicou aquilo que parece ser um ranking das melhores dietas. Reuniram um painel de "especialistas" que analisaram uma série de dietas populares e mais em voga, segundo critérios que passaram pela perda de peso, benefícios cardiovasculares, adequação a diabéticos, segurança, preço, praticabilidade, etc. Não fosse o regime Paleo ter ficado em último, nem perdia tempo com o assunto. É um trabalho claramente sensacionalista e que coloca a ciência na gaveta. No fundo, mais do mesmo. As críticas não tardaram, e vieram de cima. Podia deixar aqui a minha opinião, mas quem em melhor posição do que o Professor Loren Cordain para o fazer?


A resposta do Professor Loren Cordain foi rápida e incisiva. É difícil ir contra uma pilha de estudos científicos que dão fundamento a uma dieta estilo Paleo, ou pelo menos a algo diferente do que tem sido recomendado. Um dos critérios de juízo foi a adequação às directivas dietéticas nacionais. Neste ponto sim, a dieta Paleo pode ficar com um orgulhoso último lugar.

Mas não no que toca aos restantes pontos. A avaliação global do painel foi a seguinte:


Overall
Weight Loss Short-term
Weight Loss Long-term
Easy to Follow
Nutrition
Safety
For Diabetes
For Heart Health


Antes de passar ao cometário de Loren Cordain, parece que o rating do público não está em concordância com o dos "especialistas". Vamos comparar com o primeiro classificado, a dieta DASH. Trata-se de um regime desenvolvido para gerir o problema da hipertensão crescente nas sociedades Ocidentais. Segundo o público que votou e que experimentou a dieta, 39% refere que a dieta DASH funcionou. Quando fazemos o mesmo exercício para a dieta Paleo, 94% das pessoas que a experimentaram mostram-se satisfeitas com os resultados. Curiosamente, a proporção de pessoas satisfeitas com o regime Paleo supera em larga escala qualquer um dos outros. Se calhar os "especialistas" deviam experimentar e dar-lhe uma oportunidade antes de a julgarem pelo preconceito da dieta das cavernas.

O painel fez ainda algumas afirmações relativas aos aspectos considerados na avaliação. O Dr. Cordain responde da única forma credível: ciência referenciada.

1. "Vai perder peso com a dieta Paleo?"

Painel: "Impossível dizer"

Cordain: "Obviamente, o autor deste artigo não leu o estudo de O'Dea [6] ou a experiência mais robusta de 3 meses levada a cabo por Jonsson e colaboradores [9] que demonstra o superior potencial para perda de peso de uma dieta Paleo rica em proteína e com uma baixa carga glicémica. Resultados idênticos de dietas similares foram relatados recentemente no maior ensaio controlado de sempre com crianças e adultos.

Um ensaio "randomizado" de 2010 que envolveu 773 indivíduos e que foi publicado no NEJM [8] confirmou que uma dieta hiperproteica e com uma baixa carga glicémica era a estratégia mais eficaz para manter um peso favorável. Os mesmos resultados foram demonstrados de forma dramática no maior ensaio controlado de nutrição alguma vez conduzido, o DiOGenes. Crianças alocadas para dietas pobres em proteína e com elevada carga glicémica engordaram significativamente nos 6 meses da experiência, enquanto que crianças com excesso de peso ou obesidade em dietas hiperproteicas e de baixa glicémia perderam peso"

2. "A dieta Paleo tem benefícios cardiovasculares?"

Painel: "Desconhecido"

Cordain: "Este comentário mostra o quanto desinformado o autor está. Claramente esta pessoa não leu os seguintes artigos [1-6] que mostram inequivocamente os efeitos terapêuticos das dietas Paleo em factores de risco cardiovasculares.

Painel: "Toda esse gordura preocupa a maioria dos especialistas"

Cordain: "Esta afirmação representa uma táctica de intimidação que não é substanciada pelos dados. Como eu, e quase toda a comunidade nutricionista, salientei previamente, não é a quantidade de gordura que eleva o risco de doença cardiovascular ou cancro, ou qualquer outro problema de saúde, mas a qualidade da mesma. As dietas Paleo contemporâneas contêm altas concentrações de ómega-3, ácidos gordos monoinsaturados e polinsaturados de cadeia longa que reduzem o risco de doenças crónicas [10-18]".

3. "Pode prevenir ou controlar a diabetes?"

Painel: "Desconhecido"

Cordain: "Este é outro exemplo de jornalismo irresponsável e tendencioso que não deixa os factos falarem por si próprios. Obviamente, o autor não leu o estudo de O'Dea [6] ou Jonsson [2] que mostram melhorias dramáticas em diabéticos tipo 2 que consomem dietas Paleo"

Painel: "Mas a maioria dos especialistas em diabetes recomendam uma dieta que inclui cereais integrais e lacticínios"

Cordain: "Num ensaio controlado, 24 rapazes com 8 anos consumiram 53g de proteína como leite ou carne diariamente [19]. Após apenas 7 dias da dieta com leite, os rapazes tornaram-se resistentes à insulina. Esta é uma condição que precede o desenvolvimento de diabetes tipo 2. Em contraste, no grupo com carne, não houve um aumento da insulina ou resistência à mesma. Além disso, no estudo de Jonsson [2], dietas sem leite ou cereais mostraram resultados superiores na melhoria dos sintomas da diabetes"

4. "Existem riscos para a saúde?"

Painel: "Possivelmente. Por excluir lacticínios e cereais está em risco de um deficit em muitos nutrientes"

Cordain: "Mais uma vez, esta afirmação mostra a ignorância do autor e o flagrante desprezo pelos factos. Uma vez que as "dietas ancestrais contemporâneas" excluem alimentos processados, lacticínios e cereais, elas são na verdade mais densas em nutrientes (vitaminas, minerais e fitoquímicos) do que as dietas recomendadas pelo Governo como a pirâmide alimentar [agora um prato (ou pizza)]. Eu salientei estes factos num artigo publicado no American Journal of Nutrition em 2005 [13] em conjunto com outro artigo no qual analisei o teor nutricional das dietas Paleo dos dias modernos [12]. Muitos nutricionistas sabem que os alimentos processados feitos com cereais refinados, açúcares e óleos vegetais têm uma baixa concentração de vitaminas e minerais, mas poucos compreendem que os lacticínios e cereais integrais contêm significativamente menos das 13 vitaminas e minerais que a população Americana mostra maior carência, comparativamente às carnes magras, peixe, fruta fresca e vegetais [12,13].

Painel: "Se não tem cuidado com as escolhas em carnes magras, vai rapidamente aumentar o risco de problemas cardíacos"

Cordain: "Na verdade, as meta-análises mais recentes não mostram que o consumo de carne vermelha fresca, seja magra ou gorda, seja um factor de risco significante para doenças cardiovasculares [20-25], apenas carnes processadas como o salame, bacon e salsichas [20]"

Portanto, a resposta dos especialistas é "impossível dizer", "desconhecido" e "possivelmente". Não há uma única referência a observações científicas credíveis e devidamente escrutinadas pelos pares. Mas não é grave! O que o painel ignora tem sido respondido por investigadores de renome como Cordain, Lindenberg, Frassetto, Jonsson, O'Dea, Astrup, Muskiet, Ramsden, Hoppe, entre muitos outros. Recentemente, o investigador Português Pedro Carrera-Bastos reviu toda esta informação que compilou no artigo "The western diet and lifestyle and diseases of civilization". Alguém devia fazer chegar o trabalho às caixas de correio dos ditos "especialistas".

A resposta do Professor Cordain estende-se e pode (e deve) ser lida na integra aqui. É difícil para alguém como eu aceitar artigos como o da US News, altamente mediáticos mas que distorcem os factos à medida de preconceitos e interesses. O jornalismo não é livre de responsabilidades e são artigos como este que moldam a opinião pública. Poucos querem saber da ciência, e menos ainda lhe têm acesso ou a compreendem sem "digestão prévia". Quando a própria impressa lhes nega o direito a informação credível e fundamentada, o que nos resta? Apenas criar espaços alternativos como este e não deixar estas situações passar em claro.



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[1] Frassetto LA, Schloetter M, Mietus-Synder M, Morris RC, Jr., Sebastian A: Metabolic and physiologic improvements from consuming a paleolithic, hunter-gatherer type diet. Eur J Clin Nutr 2009.

[2] Jönsson T, Granfeldt Y, Ahrén B, Branell UC, Pålsson G, Hansson A, Söderström M, Lindeberg S. Beneficial effects of a Paleolithic diet on cardiovascular risk factors in type 2 diabetes: a randomized cross-over pilot study. Cardiovasc Diabetol. 2009;8:35

[3] Jonsson T, Granfeldt Y, Erlanson-Albertsson C, Ahren B, Lindeberg S. A Paleolithic diet is more satiating per calorie than a Mediterranean-like diet in individuals with ischemic heart disease. Nutr Metab (Lond). 2010 Nov 30;7(1):85

[4] Jonsson T, Ahren B, Pacini G, Sundler F, Wierup N, Steen S, Sjoberg T, Ugander M, Frostegard J, Goransson Lindeberg S: A Paleolithic diet confers higher insulin sensitivity, lower C-reactive protein and lower blood pressure than a cereal-based diet in domestic pigs. Nutr Metab (Lond) 2006, 3:39.

[5] Lindeberg S, Jonsson T, Granfeldt Y, Borgstrand E, Soffman J, Sjostrom K, Ahren B: A Palaeolithic diet improves glucose tolerance more than a Mediterranean-like diet in individuals with ischaemic heart disease. Diabetologia 2007, 50(9):1795-1807.

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[9] Papadaki A, Linardakis M, Larsen TM, van Baak MA, Lindroos AK, Pfeiffer AF, Martinez JA, Handjieva-Darlenska T, Kunesová M, Holst C, Astrup A, Saris WH, Kafatos A; DiOGenes Study Group. The effect of protein and glycemic index on children's body composition: the DiOGenes randomized study. Pediatrics. 2010 Nov;126(5):e1143-52

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[22] Mozaffarian D, Micha R, Wallace S. Effects on coronary heart disease of increasing polyunsaturated fat in place of saturated fat: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. PLoS Med. 2010 Mar 23;7(3):e1000252.

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[24] Siri-Tarino PW, Sun Q, Hu FB, Krauss RM. Saturated fat, carbohydrate, and cardiovascular disease. Am J Clin Nutr. 2010 Mar;91(3):502-9

[25] Siri-Tarino PW, Sun Q, Hu FB, Krauss RM. Meta-analysis of prospective cohort studies evaluating the association of saturated fat with cardiovascular disease. Am J Clin Nutr. 2010 Mar;91(3):535-46




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