Síndrome Pré-Menstrual: a nutrição poderá ajudar?
Saúde

Síndrome Pré-Menstrual: a nutrição poderá ajudar?



Na sequência do meu artigo sobre o Síndrome Pré-Menstrual onde explorei as causas dos distúrbios associados [link], venho agora voltar ao tema, mas no sentido de apontar algumas estratégias que podem ajudar as mulheres (e os homens) a lidar com esta altura difícil. Como vimos, a causa geral relaciona-se com um desequilibro hormonal entre os estrogénios (E2) e progesterona (PG). Trata-se de uma dominância dos estrogénios que leva a alterações físicas e neuroquímicas na base dos sintomas. O que fazer? Apesar de ser um problema difícil de lidar, há muito que a nutrição funcional pode fazer para aliviar este período crítico no mês de uma mulher.


Para mais noções sobre a fisiologia do problema leia o artigo antecessor [link]. No entanto, convém aqui também explicar em traços gerais o que se passa no corpo de uma mulher neste período. A fase pré-menstrual é uma altura do ciclo em que as hormonas progesterona e estradiol estão naturalmente elevadas de forma a aumentar a espessura do endométrio. No entanto, não são raros os casos onde se verifica um déficit de progesterona relativamente ao estradiol em excesso. A obesidade, resistência à insulina, e ovários policísticos são apenas três condições em muitas onde este desequilíbrio é evidente. No caso da obesidade, resistência à insulina, e elevada ingestão de açúcares, os ovários produzem excesso de androgénios que são convertidos pela enzima aromatase em estrogénios, baixando o rácio PG:E2.

Resumidamente, a redução do rácio PG:E2 leva a um aumento da produção de aldosterona que explica a retenção de líquidos e inchaço que se verificam. Além disso, os estrogénios reduzem a densidade de receptores de dopamina, e aumentam os de noradrenalina [link]. Resultado: apetite por doces, ansiedade, estados depressivos, e irritabilidade. Como é evidente, estratégias nutricionais para aliviar a sintomática passam por uma optimização do PG:E2, e atenuação dos efeitos manifestados - aumento da acção da dopamina e drenagem.

Pouco pode ser feito na verdade em relação ao aumento da PG, fora a terapia hormonal. Alguns alimentos como o inhame são tidos para esse fim, mas a verdade é que a capacidade do organismo em converter essa fitoprogesterona parece ser limitada. Mas em muitos casos aumentar a PG pode até nem ser de interesse já que o problema são mesmo estrogénios a mais. E estes nós podemos de facto baixar.

Os estrogénios são eliminados no fígado através da bílis. Primeiro passam pelos mecanismos de desintoxicação hepática, fortemente modelados a nível nutricional. Uma das enzimas responsáveis por esta metabolização é a CYP1A1, limitante em todo o processo. O índole-3-carbinol, ou mais propriamente o Di-indolemetano (DIM) que dele deriva, são indutores desta enzima, acelerando o processo de eliminação hepático. O índole-3-carbinol está presente na família das Brássicas que engloba os brócolos, espargos, couves, agrião, entre outros [link]. O aumento da ingestão destes alimentos garante uma eliminação eficiente dos estrogénios, e redução do rácio PG:E2.

Mas o contributo das Brássicas para o processo vai além do efeito do índole-3-carbinol. São também ricas em sulforafanos, potenciadores da fase 2 de detoxificação hepática. Na fase 1 são gerados intermediários tóxicos que necessitam de ser neutralizados e excretados na fase 2. Como tal, é imperativo que ambas as vias estejam a funcionar no seu plano e emparelhadas. Um outro composto de especial interesse aqui é o Cardo Mariano, ou Silimarina, útil para quem sobre de síndrome pré-menstrual pelo seu papel na eliminação dos metabolitos dos estrogénios.

Outro alimento que deve fazer parte do programa é o abacate. O abacate é rico em fitoesteróis competitivos com o E2. Além disso ajuda no aumento da glutationa, sendo também rico em vitaminas B5 e B9, também importantes para o potenciamento dos mecanismos detox. O magnésio é também importante para o equilíbrio hormonal, e a suplementação com 600 mg de citrato de magnésio pode ajudar bastante nesta fase. A linhaça é também interessante nesta fase, não só para combater a obstipação, mas pelo efeito competitivo que alguns compostos nela presentes exercem sobre os estrogénios.

Os cravings por doces tão comuns são também um problema que merece atenção. Claro que o equilíbrio entre a progesterona e o estradiol irá já por si ajudar, mas o beneficio do aumento da dopamina nesta fase é por si evidente. O picolinato de crómio pode aqui ajudar, não só pelo crómio, mas principalmente pelo ácido picolínico. Este é um produto do metabolismo do triptofano, e a suplementação pode ajudar a poupar triptofano no cérebro para síntese de serotonina, um neurotransmissor de bem-estar, saciedade, e relaxamento. Além disso, o ácido picolínico inibe a enzima dopamina beta-hidroxilase e MAO, responsáveis pela degradação da dopamina.

Outras estratégias poderiam ser implementadas numa fase posterior. Falo por exemplo do re-equilibrio da flora intestinal, garantia de um balanço hormonal óptimo. Após eliminação dos estrogénios através da bílis, eles sofrem metabolização das bactérias intestinais. Algumas expressam uma enzima, a beta-glucoronidase, que desconjuga os estrogénios e permite a sua reabsorção. O D-Glucarato de Cálcio intervém aqui, inibindo a enzima e facilitando a excreção. Um bom probiótico poderá também claro ser útil para este fim, reequilibrando uma flora muitas vezes destruída pelos nossos maus hábitos alimentares.

É claro que ao implementar estes alimentos funcionais ou suplementos no seu regime, tudo o resto já deverá ter sido optimizado. Redução na cafeína e álcool são importantes aqui. Refeições regulares e garantia de níveis estáveis de glicemia, sem doces ou alimentos que possam perturbar este equilíbrio. Um pequeno almoço rico em proteína é de extrema importante para manter glicemias estáveis ao longo do dia. Evitar a exposição a xenobióticos estrogénicos (ftalatos, bisfenol, etc). Garanta também um consumo de ómega-3 suficiente para contrariar o efeito negativo dos ómega-6 (via prostaglandinas). A suplementação com 1,5-2 g ómega-3 (EPA + DHA) é indicada, também pelo seu efeito a nível de neurotransmissores. E claro... faça exercício.

Outros suplementos poderiam ser mencionados, mas o seu uso específico depende do caso, e muitas vezes não chegam sequer a ser necessários. Muito pode ser feito para melhorar a qualidade de vida neste período e, ao contrário no que muitos vezes é feito crer, a fase pré-menstrual não tem de ser um período negro. Na verdade, deveria passar quase despercebido.



loading...

- Estrogénios E Hipoglicemia: Uma Consequência De Ser Mulher?
O público feminino não é deixado de lado aqui no blogue. Na verdade seria uma tremenda injustiça já que uma grande fatia dos leitores são de facto mulheres. Já aqui falámos sobre vários aspectos relacionados com o impacto dos estrogénios no...

- Low-carb E Perfil De Distribuição De Gordura: Parte 2
No último artigo falei-vos sobre um caso onde a restrição severa e prolongada em hidratos de carbono e energia, aliada a uma actividade física intensa e rigorosa, levou desequilíbrios hormonais que resultaram numa composição corporal desfavorável...

- Sintomas Do Hipogonadismo Nos Homens: Deficiência Em Testosterona Ou Estrogénios?
Falámos há alguns meses do declínio nos níveis de testosterona que os homens experienciam com o passar dos anos [link]. Abordámos também já aqui o papel importante, e por muitas vezes ignorado, que os estrogénios desempenham nos homens [link]....

- Os Brócolos E A Composição Corporal: Um Alimento Funcional
Se há um vegetal que eu não dispenso na dieta são os brócolos. O motivo passa não apenas pela sua riqueza em vitaminas e minerais, como vitamina C, vitamina A, vitamina K, ácido fólico, cálcio, potássio e crómio, mas principalmente pela presença...

- Os Estrogénios Nos Homens E O Risco Cardiovascular
A obesidade nos homens é muitas vezes caracterizada por uma alteração na relação testosterona/estradiol. A enzima aromatase é responsável pela conversão da testosterona em estradiol, estando mais activa em indivíduos obesos. Na verdade, o tecido...



Saúde








.