Saúde
Soro condicionado pelo exercício físico inibe a proliferação de células tumorais in vitro
Julga-se que o sedentarismo e excesso de peso sejam responsáveis por uma importante fatia dos casos de cancro. Em 2007, o
World Cancer Research Fund reuniu um painel de especialistas que concluiu que a actividade física reduz o risco de cancro da mama e cólon em 25%, sugerindo 30 min diários de exercício moderado como medida preventiva. Uma equipa Dinamarquesa encabeçada por Pernille Hojman publicou recentemente no
American Journal of Physiology, Endocrinology and Metabolism um estudo em que demonstra o efeito inibitório de citocinas produzidas no músculo exercitado no crescimento de linhas celulares de cancro mamário. O soro extraído de animais após exercício parece inibir a proliferação de células cancerosas e estimular a sua apoptose.
Os mecanismos através dos quais o exercício exerce o seu efeito protector estão ainda longe de clarificados. A lista de processos propostos inclui alterações hormonais, função imune, reparação do DNA, inflamação e balanço energético. Mas mais recentemente tem sido demonstrado que o exercício induz a libertação de citocinas por parte do músculo em esforço, as chamadas miocinas. O tecido muscular passou de um sistema meramente mecânico a um órgão secretório que pode influenciar vários processos metabólicos.
Estas miocinas podem também desempenhar um papel na protecção ao cancro, uma hipótese levantada em estudos com células C2C12 electro-estimuladas e com soro humano obtido após exercício físico. A equipa de Hojman testa a teoria de que alguns factores secretados durante a actividade física podem ter um efeito anti-proliferativo directo nas células cancerosas.
Para tal, incubaram culturas celulares MCF-7, de cancro mamário humano, com soro extraído de ratos em vários tempos após uma sessão de natação (os ratos sabem nadar). Foram analisadas uma série de miocinas, nomeadamente a IL-10, 1L-11, GDF-2, GDF-5 e OSM (Oncostatina M).
A hipótese foi confirmada e o soro condicionado pelo exercício mostrou-se capaz de inibir a proliferação das células MCF-7 e até estimular a sua apoptose por activação do programa coordenado de caspases. Este efeito dava-se em exclusivo com soro extraído logo após o exercício e não quando era obtido 2 h depois.
Para identificar potenciais candidatos, foram perfilados uma série de 32 genes codificantes de miocinas conhecidas. Desses, apenas 2 retornaram a níveis basais após 2 h, nomeadamente a IL-10 e OSM. Este último provou ser particularmente interessante já que inibiu a proliferação de células MCF-7 e induziu apoptose, um efeito severamente atenuado com a adição de anticorpos anti-OSM. Estudos prévios tinham já demonstrado uma inibição dose-dependente das células MCF-7 com OSM, mas ficou demonstrado pela primeira vez que o mesmo efeito é conseguido com soro condicionado pelo exercício.
Mas em adição à produção de miocinas, o exercício também reduziu os níveis de várias citocinas pró-inflamatórias e factores de crescimento que se sabe terem um efeito estimulante na progressão de tumores. A insulina inclui-se neste grupo. Se o efeito protector do exercício passa pela redução da insulinémia não fica clarificado, embora este fenómeno se prolongue por mais de 2 h após a sessão. É pouco provável que desempenhe um papel de relevo.
Portanto, este estudo sugere que certos factores secretados pelos músculos em exercício podem inibir a progressão do cancro e até facilitar a sua regressão. A Oncostatina M é o candidato melhor posicionado para este efeito protector. Como eu costumo dizer, faça exercício pela sua saúde, não para perder peso.
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Hojman P, Dethlefsen C, et al. (2011). Exercise-induced muscle-derived cytokines inhibit mammary cancer cell growth.
Am J Physiol Endocrinol Metab. Epub AOP June 7. DOI: 10.1152/ajpendo.00520.2010
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