Vantagem genética em atletas de potência e força
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Vantagem genética em atletas de potência e força



Existem variantes genéticas, polimorfismos, que parecem conferir vantagem competitiva aos atletas, pelo menos de um ponto de vista teórico. Por altura dos jogos Olímpicos de 2004 esta questão foi muito debatida devido a uma série de estudos que surgiram sobre doping genético, variantes no gene do IGF-1 e miostatina. É legítimo tirar partido dessa vantagem, mesmo sendo algo que nasce connosco? As opiniões divergiram, mas como pode ser alguém discriminado pelo seu background genético? Claro que não é eticamente correcto banir alguém da competição por ter genes mais favoráveis. Em sequência desta polémica têm surgido alguns trabalhos que associam determinados polimorfismos a performance. Por exemplo, um estudo publicado recentemente no Journal of Strength and Conditioning Research  [link] mostra-nos que existe uma prevalência bastante superior de um polimorfismo CC e CT no gene AGT, que codifica para o angiotensinogénio em atletas de potência e força, comparativamente a atletas de endurance ou não-atletas.


As variantes CC, CT e TT representam os nucleóticos presentes no DNA na posição 235 do gene do angiotensinogénio. Indivíduos CC sao homozigóticos para a variante com citosina, os CT heterozigóticos, apresentando uma cópia com citosina e outra com timina nessa posição, e os TT homozigóticos para timina. A presença de um alelo C revelou-se muito mais frequente em atletas de força e potência do que em desportistas de endurance ou pessoas sedentárias. Como tal, é provável que esta variante confira um fenótipo favorável aos desportos que requerem potência que se manifesta em melhor performance.

O angiotensinogénio é o percursor da angiotensina, um factor que regula o equilíbrio osmótico do nosso organismo, entre outras funções. A sua acção no músculo tem vindo a ser revelada nos últimos tempos, e a sinalização da angiotensina parece promover hipertrofia e um redireccionamento do fluxo sanguíneo para as fibras tipo II, de contracção rápida. Se as variantes C conferem ganho de função, é possível que isso tenha influência nas adaptações aos desportos de potência e força, dando uma vantagem competitiva aos portadores do polimorfismo.

A primeira vez que vi esta questão em debate surgiu a respeito da miostatina [link]. No ano 2000 nasceu uma criança na Alemanha que viria a ser notícia pela sua homozigotia para mutação do gene da miostatina. O bebé apresentava uma massa muscular surpreendentemente elevada e uma percentagem de gordura menor do que o normal. Para que isto ocorra, é necessário que tanto a mãe como o pai sejam portadores da mutação, levantando a suspeita de que não seja assim tão rara quanto isso. Além do mais, a mãe da criança era atleta profissional, sendo possível que a mutação em heterozigotia lhe conferisse alguma vantagem competitiva.

A opinião dos especialistas dividiu-se. Alguns acharam que não era legítimo um atleta aproveitar-se deste tipo de vantagem relativamente aos seus pares. Outros consideravam pouco ético e imoral banir alguém do desporto pelos genes com que nasceu. Esta posição parece-me a mais acertada, tendo em conta que não estamos a falar de doping genético. Não existe intenção de ganhar vantagem, e no fundo a genética é uma componente da capacidade atlética inata. Seria um caminho perigoso para discriminar atletas com base num "passport" genético que não escolheram, o que sou obviamente contra.

Aproveito para pedir a vossa opinião sobre o tema. Acham ilegítima este tipo de vantagem competitiva? Deveria existir uma genotipagem dos atletas de alta competição? Deve alguém ser discriminado com base nos seus genes?



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