Saúde
Yacón, a batata para diabéticos?
Redução das taxas de açúcar no sangue, menor absorção de carboidratos, baixa quantidade de lipídios, baixo valor calórico contribuindo para a perda de peso... Devido ao interesse popular, pesquisas foram desenvolvidas e mostram que o Yacón é uma batata que pode entrar na alimentação do diabético.
Outros estudos mostram ainda que pode influenciar na diminuição da síntese de carcinógenos, diminuição do risco de câncer de cólon e de infecções bacterianas, além de prevenir e tratar diarréias e a arteriosclerose, controlar a pressão arterial e contribuir para a redução dos níveis de colesterol. Será um alimento tão milagroso assim?
Que substâncias são responsáveis por esses efeitos? Qual a diferença entre comer a batata e fazer um chá de suas folhas? No que o Yacón difere de outras batatas? Quanto comer por dia? Com tantas atividades importantes, será que seu consumo não oferece nenhum risco à saúde? Quer saber mais sobre essa batata?
Batata Yacón obtida em um supermercado do Rio de Janeiro
Apresentação
Smallanthus sonchifolius pertence à família Asteraceae (Compositae) e, frequentemente, é referido pelo basiônimo Polymnia sonchifolia Poepp. Conhecido popularmente como batata yacón, é uma raiz nativa dos Andes e cultivada em diferentes países, desde Colômbia até nordeste da Argentina, Brasil, República Checa, Nova Zelândia e Japão. Durante anos ela foi consumida pelos Incas e pela população Andina, mas não existem grandes relatos de suas propriedades medicinais nesta população.[1] Além da batata, parece que suas folhas também apresentam propriedades interessantes. O uso desta folha sob a forma de chás foi disseminada para a Europa e para o Japão, de onde parecem ter vindo os primeiros relatos de possíveis efeitos benéficos sobre os níveis de glicose. E quanto a Batata Yacón? O grande problema da batata comum é a grande quantidade de carboidratos (que são aborvidos sob a forma de glicose) e, consequentemente, de calorias. A Batata Yacon apresenta elevado teor de água e diferentemente da maioria das espécies tuberosas que estocam energia na forma de amido, o yacon tem como principal carboidrato de reserva os frutooligossacarídeos (FOS). Por ter uma menor absorção que os outros carboidratos, estes tem um menor valor calórico e, com isso, acaba elevando menos a glicose no sangue. Além disso, por conta dos FOS, a Yacón tem um gosto mais adocicado (parecido com pêra ou melão) e deve ser ingerida crua. O conteúdo de proteínas e lipídios é baixo e o mineral mais abundante é o potássio (230mg/100g de yacon) e em menores quantidades são encontrados cálcio, fósforo, magnésio, sódio, ferro, zinco, manganês e cobre.
Revisão Bibliografica e Fundamentos Bromatológicos e Toxicológicos
Existe uma confusão de termos quando se faz referência ao tipo de carboidrato predominante nas raízes de yacon. Em diversos artigos da literatura, é mencionado que as raízes de yacon contêm inulina como componente principal. Apesar de muitas referências científicas citarem esse tipo de informação, esta não é exata, visto que estritamente falando, o yacon contém apenas frutooligossacarídeos (FOS). A diferença entre FOS e inulina reside no número de moléculas de frutose que têm estas cadeias. Na inulina, este número varia entre 2 e 60, enquanto que nos FOS, que apresentam cadeias menores, o número varia entre 2 e 10. [2] Isto significa que os FOS podem ser considerados como um subgrupo da inulina, motivo pelo qual alguns autores preferem empregar o termo frutooligossacarídeos para referir-se com maior precisão à natureza destes açúcares. Os FOS são carboidratos cuja cadeia é composta predominantemente por unidades de frutose, com uma unidade de glicose terminal, sendo a ligação entre as moléculas de frutose do tipo beta(2->1), ou seja, uma molécula de sacarose associada a n moléculas de frutose (n = 2-10).
Estrutura da Inulina - fórmula C6nH10n + 2O5n+1
Os FOS e a inulina apresentam valores calóricos reduzidos (1Kcal/g e 1,5 Kcal/g) em relação a outros carboidratos (4 kcal/g). Não são digestíveis porque as ligações b(2->1) entre as unidades de frutose não podem ser hidrolisadas pelas enzimas digestíveis humanas; após serem ingeridas chegam quase que integralmente no cólon. Lá, são fermentadas pela microflora e transformadas em gases (10%), ácidos graxos voláteis (50%) ou encontram-se (40%) na biomassa bacteriana excretada. Assim, a inulina não aumenta nem a glicemia nem a taxa de insulina no sangue, sendo, consequentemente, indicada para os diabéticos. [3]
Os FOS e a inulina têm sido designados como prebióticos e fibras alimentares solúveis por essa característica de não digestibilidade pelas enzimas do trato digestivo humano, além de estímulo seletivo do crescimento e atividade de bactérias intestinais promotoras de saúde, especialmente as bifidobactérias, baixo valor calórico e a influência sobre a função intestinal e sobre os parâmetros lipídicos.
Sua composição tem como principais substâncias água e carboidratos, os quais são armazenados principalmente sob forma de frutooligossacarídeos (FOS), entre outros açúcares livres.
O percentual de água das raízes situa-se em torno de 83 a 90% do peso fresco.
Mesmo que a proporção de cada açúcar possa variar, pode-se considerar a seguinte composição em base seca: 40 a 70% de FOS, 5 a 15% de sacarose, 5 a 15% de frutose e menos de 5% de glicose [2].
O conteúdo de proteínas, lipídios, vitaminas e minerais das raízes é bastante baixo [2]. O mineral mais abundante é o potássio, que existe em quantidades significativas e representa, em média, 230mg 100g-1 de matéria fresca comestível ou de 1 a 2% do peso seco. Em menores quantidades são encontrados o cálcio, fósforo, magnésio, sódio, ferro, zinco, manganês e cobre [2]. Algumas vitaminas encontradas no yacon geralmente representam elementos traço na composição, exceto o ácido ascórbico. Entre elas estão: retinol, caroteno, tiamina, riboflavina e niacina. Outro composto noticiado foi o triptofano, existente em quantidades médias de 14,6 ± 7,1µg g-1 [4].
Confirmou-se a presença de compostos fenólicos como ácido clorogênico (éster de ácido caféico e ácido quínico), ácido ferúlico e ácido caféico, tanto nas folhas como nas raízes tuberosas de yacon. Foi identificado cinco derivados do ácido caféico em raízes de yacon, sendo que dois destes compreendiam o ácido clorogênico (ácido 3- cafeoilquínico) e ácido 3,5-dicafeoilquínico. Três eram representados por ésteres do ácido caféico e altrárico: ácido 2,4 ou 3,5-dicafeoilaltrárico; ácido 2,5-dicafeoilaltrárico; ácido 2,3,5 ou 2,4,5-tricafeoilaltrárico. [2] Além dos compostos fenólicos citados, foram idetificados quercetina e outros dois flavonóides. Em comparação a outras raízes e tubérculos, as raízes do yacon possuem elevada quantidade de compostos fenólicos, cerca de 200mg 100g-1 de matéria fresca comestível, sendo o ácido clorogênico presente em 48,5 ± 12,9µg g-1de polpa fresca [4].
Ainda que a concentração de compostos fenólicos nas raízes seja alta, a concentração se apresenta ainda mais elevada em outros órgãos da planta, como as folhas e a cepa. Esses compostos têm como propriedades gerais: serem antioxidantes, exercer efeitos quelantes e modular à atividade de vários sistemas enzimáticos, de modo a atuar majoritariamente na dieta como elementos que promovem saúde ante fatores químicos e físicos estressantes para o organismo [2].
O yacon tem sido reportado como uma boa fonte da enzima fenol oxidase, a qual catalisa a oxigenação de compostos fenólicos a quinonas que, após polimerização, apresentam os típicos pigmentos marrons ou pretos, conhecidos da oxidação enzimática de frutas e vegetais [4]. É importante considerar a subcamada da casca quando se estuda o processo de descascamento de yacon, pois é nesta parte da raiz que se concentram os taninos e os polifenóis. Durante o descascamento e o processamento do yacon, quando as membranas das células são rompidas, os polifenóis e os taninos estão disponíveis para se misturar aos outros componentes, especialmente as enzimas citoplasmáticas, o que pode ocasionar um processo conhecido como oxidação enzimática, e a epiderme torna-se rapidamente escura quando exposta ao ar [4]. Esta oxidação se dá em presença de oxigênio livre, escurecendo rapidamente a superfície recém-cortada das raízes tuberosas de yacon, prejudicando sua aparência e a de seus produtos.
Alguns autores conseguiram demonstrar que substâncias presentes nas folhas da Yacon realmente tem efeitos hipoglicemiantes. Parece que parte destes efeitos é secundário a um aumento da secreção de insulina pelo pâncreas. [5]
Os autores investigaram não apenas os benefícios da chá das folhas de Yacon, mas também seus efeitos sobre os rins.
O estudo [5] foi realizado em camundongos diabéticos e não diabéticos para avaliar a toxicidade de dose repetida de três extratos de folhas de yacon: o extrato aquoso preparado como uma infusão de chá, a folha de extrato de lavagem, ambos ricos em lactonas sesquiterpênicas ; e um extrato polar de folhas, o qual falta lactonas sesquiterpênicas, mas é rico em ácidos clorogênicos.
O extrato polar provocou alterações em alguns parâmetros bioquímicos, mas os animais não apresentaram sinais de toxicidade comportamental ou lesões graves em órgãos. Alterações de parâmetros específicos bioquímicos no sangue (creatinina 7,0 mg / dL, glicose 212,0 mg / dL, albumina 2,8 g / dL) de ratos tratados com extrato aquoso (10, 50 e 100 mg / kg) e de extrato de lavagem (10 e 100 mg / kg) - ricos em lactonas sesquiterpênicas - apontou lesão renal, o que foi confirmado por análise histológica dos rins.
A lesão renal foi associada com aumento dos níveis de glicose no sangue após a administração oral prolongada do extrato aquoso. Esta observação sugeriu que o efeito hipoglicêmico observado após o tratamento durante 30 dias em um estudo anterior é reversível e foi provavelmente o resultado de lesão renal causada pela toxicidade do yacon. Devido às lactonas sesquiterpênicas terem sido detectadas em ambos extrato aquoso e folha de extrato de lavagem, há uma forte evidência de que estes terpenóides são os principais compostos tóxicos nas folhas do yacon. [5] Desta forma, parece que o Chá com Folhas da Yacon tem alguns riscos e estes riscos podem ser muito maiores que os benefícios. Com base nesses resultados, não é recomendado o uso oral de folhas de yacon para tratar a diabetes.
Análise frente à Legislação
Segundo a Resolução-RDC nº 360 de 23 de dezembro de 2003 da ANVISA [6], que trata da rotulagem de alimentos embalados, estão excluídos da obrigatoriedade da rotulagem nutricional a frutas, vegetais e carnes in natura. Se o vegetal for pesado à vista do consumidor, caso haja interesse do fornecedor, as informações nutricionais devem atender a referida Resolução. Cartazes, folhetos, etiquetas ou outro formato apropriado podem ser utilizados para melhor esclarecimento do consumidor. No entanto, se o vegetal for pré-embalado na ausência do cliente (em uma indústria, por exemplo) e prontos para serem oferecidos diretamente ao consumidor devem apresentar rotulagem nutricional.
A batata yacón obtida em um supermercado do Rio de Janeiro, apresentava embalagem como mostrada na imagem acima e foi embalada e pesada sem a presença do consumidor. Apresentava a seguinte rotulagem nutricional:
Apresenta a declaração de valor energético, carboidratos, proteínas, gorduras totais, gorduras saturadas, gorduras trans, fibra alimentar e sódio, que são os nutrientes exigidos na rotulagem pela Resolução. A quantidade estava relacionada a uma por porção de 100 g. A informação nutricional obrigatoriamente deve apresentar, além da quantidade da porção do alimento em grama ou mililitro, o correspondente em medida caseira, utilizando utensílios domésticos como colher, xícara, dentre outros, conforme previsto na Resolução RDC 359/03 [7]. Tal informação não foi encontrada no rótulo.
Devido ao alto conteúdo de água na Yacón, sua vida útil em condições ambientais é de proximadamente 7 dias [2]. Dessa forma, a validade do rótulo pode ser considerada correta.
O rótulo foi fixado na embalagem de forma inadequada, dificultando a leitura das informações.
A Resolução 360/03 diz que produtos com embalagem simples apenas para proteção, não precisam apresentar informação nutricional, porém deveria haver melhor definição de “embalagem simples”.
Discussão
Atualmente, o yacon é comercializado como nutracêutico e tem sido descrito como o alimento com maior conteúdo de FOS na natureza. A atividade prebiótica dos FOS contidos no yacon tem sido associada a efeitos favoráveis à saúde como alívio da constipação, aumento na absorção de minerais, fortalecimento do sistema imunológico, diminuição do desenvolvimento de câncer de cólon, os quais são cientificamente comprovados quando os FOS são consumidos em dosagens recomendadas. Além desse fator, a raiz contribui com doses razoáveis de minerais, como o potássio, além de compostos fenólicos para a alimentação humana. Há evidências de que a utilização de FOS na alimentação animal também pode atuar no controle da disseminação de doenças através do aprimoramento do sistema imunológico.
Folhas apresentam compostos fenólicos e forte atividade antioxidante, e são considerados suplemento alimentar em potencial na prevenção de doenças crônicas envolvendo estresse oxidativo, particularmente diabetes do tipo II [8] e arteriosclerose [4]. Apesar de na medicina popular, as folhas serem preparadas na forma de chá como coadjuvante no tratamento do diabetes, no controle da pressão arterial e na redução dos níveis de colesterol, estudos vão contra a sua utilização em forma de chá, por levar a lesão renal em animais.
Conclusão e Recomendações
Não é recomendado o uso oral de folhas de yacon para tratar a diabetes, devido a possibilidade de lesão renal. Já a Batata Yacon realmente pode ser utilizada pelo paciente diabético.
A forma de consumo da batata yacon é crua, como fruta, ao contrário de outros tipos de túbérculos como batata doce e batata inglesa.
Ela parece ser uma opção saudável, podendo ser utilizada como um substituto bem interessante para pequenas refeições ao dia (como um lanche). Porém, ela não deve ser consumida em excesso.
Mas importante: ela não substitui nenhum medicamento nem deve ser utilizada para o tratamento do Diabetes Mellitus.
Referências Bibliográficas
[1] DUARTE, Márcia do Rocio; WOLF, Samantha and PAULA, Bruna Gruskoski de. Smallanthus sonchifolius (Poepp.) H. Rob. (yacón): identificação microscópica de folha e caule para o controle de qualidade farmacognóstico. Rev. Bras. Cienc. Farm. [online]. 2008, vol.44, n.1, pp. 157-164. ISSN 1516-9332.
[2] SANTANA, Isabelle and CARDOSO, Marisa Helena. Raiz tuberosa de yacon (Smallanthus sonchifolius): potencialidade de cultivo, aspectos tecnológicos e nutricionais. Cienc. Rural [online]. 2008, vol.38, n.3, pp. 898-905. ISSN 0103-8478.
[3] MOSCATTO, Janaína Andréa; PRUDENCIO-FERREIRA, Sandra H. and HAULY, Maria Celia Oliveira. Farinha de yacon e inulina como ingredientes na formulação de bolo de chocolate. Ciênc. Tecnol. Aliment. [online]. 2004, vol.24, n.4, pp. 634-640. ISSN 1678-457X.
[4] VALENTOVÁ, K.; CVAK, L.; MUCK, A.; ULRICHOVÁ, J.; SIMANEK, V. Antioxidant activity of extracts from the leaves of Smallanthus sonchifolius. Eur. J. Nutr., v. 42, p. 61-66, 2003.
[5] Oliveira, R.B.; Chagas-Paula, D.A.; Rocha, B.A.; Franco, J.J.; Gobbo-Neto, L.; Uyemura, S.A.; Santos, W.F.; Da Costa, F.B. Renal toxicity caused by oral use of medicinal plants: the yacon example. Journal of Ethnopharmacology 133: 434-441, 2011.
[6] Brasil. Resolução RDC n.360, de 23 de dezembro de 2003. A Diretoria Colegiada da ANVISA/MS aprova o regulamento técnico sobre rotulagem nutricional de alimentos embalados. Diário Oficial da União. 2003 23 dez.
[7] Brasil. Resolução RDC n.359, de 23 de dezembro de 2003. A Diretoria Colegiada da ANVISA/MS aprova Regulamento Técnico de Porções de Alimentos Embalados para Fins de Rotulagem Nutricional.. Diário Oficial da União. 2003 23 dez.
[8] VALENTOVÁ, K.; SERSEN, F.; ULRICHOVÁ, J. Radical scavenging and anti-lipoperoxidative activities of Smallanthus sonchifolius leaf extracts. J. Agric. Food Chem., v. 53, p. 5577-5582, 2005.
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