Saúde
A dieta Mediterrânea e o risco cardiovascular
Muito se fala da dieta Mediterrânea para prevenção de doença cardiovascular embora, na verdade, poucos tenham sido os estudos de intervenção controlados que demonstram um benefício de forma convincente. Talvez tenha sido agora o caso. O PREDIMED foi um estudo multicêntrico conduzido em Espanha para comparar a dieta Mediterrânea à convencional dieta pobre em gordura e cujos resultados foram agora publicados no New England Journal of Medicine. Os resultados são claros e parece haver uma redução significativa de eventos cardiovasculares com uma alimentação Mediterrânea típica.
O PREDIMED envolveu mais de 7000 adultos com idade igual ou superior a 55 anos e tratou-se de um estudo de prevenção primária, ou seja, nenhum dos participantes tinha doença cardiovascular diagnosticada embora estivessem em risco de a desenvolver. Na verdade, o estudo terminou antes do programado dada a evidência tão forte de um benefício da dieta Mediterrânea. Uma questão de ética. Se existem evidências fortes da superioridade de um tratamento, não é simpático expor pessoas a um outro menos eficaz (ou que as esteja a matar).
Os participantes foram divididos em 3 grupos: 2 com dieta Mediterrânea e um com uma dieta pobre em gordura típica (infelizmente típica...). As recomendações específicas de cada intervenção estão na tabela seguinte. De um modo geral, o grupo com a dieta pobre em gordura foi incentivado a reduzir a ingestão de alimentos gordos (carne, peixe, lacticínios, etc), beber leitinho magro, comer o paozinho, o arrozinho, a fruta, etc. Resumindo, a remover da dieta as poucas fontes de ómega-3 que ela tinha. Por seu lado, foi recomendado ao grupo da dieta Mediterrânea para ingerir bastante peixe gordo, leguminosas e carnes brancas, evitando o consumo de lacticínios gordos, refrigerantes, comida processada e outras coisas a que costumam chamar comida mas não é. Portanto, fizeram mais ou menos o contrário do grupo com a dieta hipolipídica. Como disse, havia dois grupos com a dieta Mediterrânea. A diferença entre ambos foi na recomendação para ingerir azeite, pelo menos 4 colheres de sopa por dia, ou oleaginosas.
Na imprensa fala-se numa redução de eventos cardiovasculares na ordem dos 30% com as dietas Mediterrâneas, não se verificando grande diferença entre os dois grupos. Na verdade, uma forma mais rigorosa de comunicar os resultados seria algo do género: por cada 1000 pessoas com dieta Mediterrânea, evitariam-se 3 mortes por doença cardiovascular por ano. Ligeiramente diferente e bem menos impressionante.
Um detalhe interessante deste estudo é que os grupos são bastante parecidos nos outros condicionantes que não a dieta. E não havendo diferença entre os dois grupos com dieta Mediterrânea, os salvador não será nem o azeite nem as oleaginosas. Será a ingestão incomparavelmente maior de ómega-3? Ou será apenas o facto de 2 grupos, os com a dieta Mediterrânea, terem simplesmente começado a comer alimentos dignos dessa designação? A verdade é que, apesar das recomendações da equipa, o grupo designado para a dieta pobre em gordura não reduziu a ingestão de gordura coisa nenhuma. Portanto, comparámos a dieta Mediterrânea à dieta Espanhola normal, que é uma desgraça. De qualquer forma não creio que se tivessem dado melhor doutra forma.
Conclusão: se uma dieta for constituída por alimentos e não produtos, então é saudável. Se comer peixes gordos, magros, carne, ovos, muitos vegetais, alguma fruta, azeite, oleaginosas, batatas e alguns cereais (pouco trigo), é natural que tenha menos enfartes do que quem come "coisas" altamente processadas e pobres em determinados nutrientes essenciais. A dieta Mediterrânea é saudável? Claro... se para si não significar telefonar à Telepizza mas sim cozinhar em família com ingredientes de qualidade.
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