Alimentos que passaram de vilões a mocinhos
Saúde

Alimentos que passaram de vilões a mocinhos


Enquanto a ciência tentava comprovar a parcela de culpa da alimentação nos problemas de saúde, uma lista crescente de alimentos ia para o 'banco dos réus' e para fora dos pratos de muita gente. Foi dessa forma, por exemplo, que o ovo virou inimigo número 1 de quem precisava reduzir o colesterol e o café, um veneno para quem sofria de gastrite.

Felizmente, os avanços nos estudos, nos últimos anos, mostraram que certos 'vilões', além de saborosos, são, na verdade, mais mocinhos do que aparentam. Não apenas porque se descobriu que esses alimentos também apresentam nutrientes que fazem maravilhas ao organismo. Mas, especialmente, pela comprovação de que o verdadeiro perigo está na  forma como se come - e não necessariamente no alimento que é consumido.

A receita de bem-estar e vida longa em frente à mesa é simples, garante o médico Paulo Olzon Monteiro da Silva, chefe da disciplina de Clínica Médica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 'Alguns alimentos devem ser ingeridos com parcimônia, em quantidades reduzidas',orienta o médico.

Confira, a seguir, os mitos e verdades relacionados a alguns alimentos que passaram de vilões a mocinhos:

 
Abacate: o que diziam dessa fruta: muito calórica, era proibida na dieta de quem desejava emagrecer. Por ser bastante oleoso, algumas pessoas acusavam o abacate de ser um alimento rico em colesterol. Detalhe: esse tipo de gordura só existe em fontes de origem animal. Ou seja, jamais seria encontrado em uma fruta.

 
Qual o seu lado mocinho: por conter pouca água, a fruta tem alta concentração de vitaminas e minerais. O abacate é ainda benéfico para o sistema digestivo, para o fígado e para o sistema imunológico. E olhe a ironia: por ser rico em ácido oléico (uma gordura monoinsaturada, gordura do bem que dá a oleosidade da fruta), o abacate previne o colesterol ruim (LDL) e mantém os níveis do colesterol bom (HDL).

 
Café: o que falavam da bebida: que provocava gastrite, elevação da pressão arterial, agitação e insônia. Corriqueira no cardápio nacional, a bebida, que inclusive dá nome ao desjejum (café da manhã), era ainda relacionada à má absorção de cálcio, o que poderia contribuir para enfraquecer os ossos. Segundo especialistas, esse malefícios dependem muito mais do grau de sensibilidade de algumas pessoas à cafeína.

 
Qual seu lado mocinho: pesquisas apontam que o consumo moderado da bebida auxilia na concentração e na memória, diminuindo os riscos de doenças degenerativas. Há ainda evidência de que ele tenha efeito positivo na melhora do humor e em casos de depressão.
 
Chocolate: o que diziam dessa guloseima: era sinônimo de gordura e açúcar em excesso, por isso de alto teor calórico. Risco certo para o coração, por ser uma fonte de colesterol, o chocolate foi riscado do cardápio de pessoas preocupadas em emagrecer ou com problemas cardíacos.

 
Qual o seu lado mocinho: acredite se quiser, mas o doce ajuda a relaxar e até a dormir. Quem defende a idéia é o médico Guenther Von Eye, professor adjunto de Medicina Interna da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 'O chocolate libera endorfina, substância ligada à sensações de prazer e bem-estar, por isso ajuda a pessoa se sentir bem. Por isso, inclusive, que há sempre um bombom nos quartos de hotéis', completa o médico.

 
Publicada pela agência internacional de notícias Reuters, uma pesquisa realizada por Ian Macdonald, da University of Nottingham Medical School, na Inglaterra, aponta ainda que o flavanol (substância presente no cacau) aumenta o fluxo sanguíneo no cérebro - o que pode ser uma esperança no tratamento de danos vasculares. Mas não exagere. O doce é calórico sim e somente até 6g de chocolate por dia pode ser considerada uma quantidade de consumo saudável.

 
Ovo: o que diziam dele: rico em colesterol, o ovo foi, por muito tempo, considerado o principal inimigo de pessoas com problemas cardíacos. 'As pessoas só não sabem que 70% a 80% do colesterol são produzidos pelo fígado, só o restante vem da alimentação', alerta o médico Paulo Olzon, da Unifesp.

 
Qual seu lado mocinho: 'Quando consumido sem exagero, o ovo apresenta risco somente para pessoas com predisposição genética a produzir de forma elevada o colesterol pelo fígado', ensina a nutricionista Eliana Cristina de Almeida, professora da Unifesp.

 
Segundo Eliana, o ovo é ainda uma fonte rica em proteínas, vitaminas lipossolúveis (que, entre outras funções, também tem ação antioxidante), minerais e gordura insaturada (uma gordura do bem). 'O ovo tem substâncias de proteção contra a arteriosclerose, por exemplo. O importante é não exagerar na dose, pois todo alimento em excesso traz prejuízos ao organismo', finaliza.

 
E não é só. A gema oferece uma grande concentração de colina. Essa substância reveste a membrana das células (incluindo as células nervosas do cérebro) e não é produzida pelo organismo. Por isso, comer ovo é uma forma de garantir a integridade celular. Outra função da colina é formar a acetilcolina - um neurotransmissor relacionado às funções de aprendizado e memória.

 
Autores:
  1. Eliana Cristina de Almeida - nutricionista, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp);
  2. Guenther Von Eye - professor adjunto de Medicina Interna da Universidade Federal de Medicina do Rio Grande do Sul;
  3. Paulo Olzon Monteiro da Silva - clínico geral, chefe da disciplina de Clínica Médica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp);
  4. Rosana Perim-nutricionista, gerente de nutrição do Hospital do Coração de São Paulo (HCor);



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