Saúde
Bio Fibras com 2 probióticos: quanto mais melhor? Uma análise entre consumo de probióticos frente as suas alegações benéficas.
O uso dos alimentos chamados funcionais como meio profilático ou regulatório de alguns problemas de saúde é cada vez mais notório. Dentro deste contexto insere-se os probióticos, microrganismos vivos capazes de melhorar o equilíbrio microbiano intestinal produzindo efeitos benéficos à saúde do indivíduo. Estes alimentos têm apresentado uma variedade de produtos de diferentes marcas com uma presença nas prateleiras de supermercados e na mídia crescente.
O Bio Fibras líquido da Batavo é um exemplo peculiar, já que é uma bebida láctea produzida a partir de iogurte que apresenta não um, mas dois probióticos o Lactobacillus Acidophillus e o Bifidobacterium Lactis, que chegam vivos ao intestino ajudando na regulação deste por meio de uma inibição competitiva com a microbiota do meio. Diante disso podemos nos questionar: a união de dois tipos de microrganismos corrobora para um melhor efeito do produto ou seria uma estratégia de marketing? Esse questionamento pode ser reforçado tendo como exemplo as sanções feitas pelo órgão regulador de alimentos da UE em relação às alegações benéficas desses produtos e os questionamentos que cercam esse tipo de alimento em todo mundo.
IntroduçãoA busca por uma vida mais saudável tem levado as pessoas a se preocuparem mais com a sua alimentação, já que uma boa alimentação é vista como um sinônimo para um organismo saudável. Sendo assim, a busca por alimentos que corroboram na regulação do organismo ou que ainda alegam ter propriedades funcionais benéficas a saúde tem aumentado nos últimos tempos levando a um grande investimento da indústria alimentícia nestes produtos. Os probióticos são um dos melhores exemplos disso, pois este tipo de alimento tem apresentado uma crescente variedade de produtos de diferentes marcas nos mercados que não se restringem apenas ao iogurte tradicional, sendo possível encontrar até sobremesas e sorvetes com estes microrganismos. Por outro lado, esse uso crescente nos mostra que é necessário um olhar atento entre consumo e saúde. Uma pessoa que sofre de constipação irá usar um probiótico, pois este regulará seu intestino e além de melhorar sua motilidade, como sugerem os fabricantes. Possivelmente se este apresentar mais de um tipo de probiótico talvez induza a um pensamento de vantagem deste produto sobre outros do gênero, o que na prática não é comprovado. Isso é possível ver no Bio Fibras líquido da Batavo, que faz uma associação de dois probióticos o Lactobacillus Acidophillus e o Bifidobacterium Lactis.
Produto
Ingredientes: Leite semidesnatado e/ou leite reconstituído semidesnatado, preparado de morango e fibras (água, açúcar, fibras solúveis (polidextrose), polpa de morango, fibras insolúveis (fibras de trigo), aroma idêntico ao natural de morango,
corante natural carmim de cochonilha, espessantes goma xantana e goma guar e
conservante sorbato de potássio) e fermentos lácteos. Contém Glúten.
Legislação
No Brasil, os probióticos são regulamentados pela a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a ANVISA, através da Resolução RDC n.º 2, de 7 de janeiro de 2002, sendo definidos como “microrganismos vivos capazes de melhorar o equilíbrio microbiano intestinal produzindo efeitos benéficos à saúde do indivíduo”. Segundo a ANVISA não são permitidas alegações de que o produto é indicado para determinado fim ou patologia no rótulo do produto, apenas uma citação de que faz bem para a saúde, sendo estabelecido que a quantidade mínima viável da cultura deva estar entre 108 a 109 UFC (Unidades Formadoras de Colônias) por porção do produto. Em relação as propagandas destes produtos, qualquer informação sobre as propriedades deste, veiculada por qualquer meio de comunicação, não pode ser diferente daquela aprovada para a rotulagem.
Fundamentos Bromatológicos Anunciados
Em seu rótulo o Bio Fibras da Batavo alega que o
Lactobacillus Acidophillus e o
Bifidobacterium Lactis restabelecem a microbiota intestinal. Ambos têm a capacidade de passar pelo pH ácido estomacal chegando vivos ao intestino onde por exclusão competitiva, os probióticos competiria com os patógenos por sítios de fixação e nutrientes, impedindo sua ação transitoriamente. A exclusão competitiva explicaria a necessidade da administração continuada. Estes também podem produzir bacteriocinas que atuariam sobre patógenos, como no caso do
Lactobacillus Acidophillus o probiótico mais utilizado em produtos do gênero, presente na parede do intestino delgado, na parede da vagina, no cérvix e na uretra, este possui ação antimicrobiana comprovada contra
Staphylococcus aureus, Salmonella, C. albicans, Escherichia coli, entre outros microrganismos. O
Bifidobacterium Lactis teria um efeito na diminuição do tempo de trânsito do alimento no organismo. Ambos também teriam um efeito modulador da resposta imune, como é descrito cientificamente assim como os dados anteriormente citados. Porém nada é citado sobre qual seria a real simbiose desta associação.
Discussão
O uso de probióticos como uma forma profilática e regulatória de diversos distúrbios de saúde tem sua fundamentação através dos efeitos benéficos produzidos por estes em publicações científicas. Assim temos a presença de diversos produtos no mercado que veiculam esses microorganismos alegando que estes são a solução para todos os males intestinais, atuando assim como um remédio em forma de alimento. Assim produzem sorvetes, pães, sobremesas, entre outros, para atrair uma maior gama de consumidores, além de veicularem diversos comerciais nos meios de comunicação onde fazem alegações dos inúmeros benefícios destes. Porém este tipo de produto não apresenta uma unanimidade mundial em relação a essas alegações. A Autoridade Européia para a Segurança Alimentar (EFSA) julgou improcedentes muitas alegações da indústria alimentícia destes produtos que dizem melhorarem a saúde dos consumidores. Segundo o painel de cientistas independentes reunido pela autoridade européia, as evidências apresentadas pelos fabricantes para afirmar que esses produtos fazem bem à saúde ou eram tão generalizadas que não podiam ser admitidas ou não demonstravam claramente seus efeitos positivos. Aqui no Brasil em pelo menos duas ocasiões, uma em 2008 e outra em janeiro deste ano, a ANVISA proibiu a veiculação de comercias do Activia da Danone, por julgar abusivas as suas alegações em relação a saúde do consumidor.
Sendo assim, quando nos deparamos com produtos que veicula mais de um tipo de probiótico como é o caso do Bio Fibras da Batavo concluímos que esta pode ser uma forma de marketing, já que não existe um trabalho científico que comprove um efeito ímpar de tal associação, o que pode levar o consumidor a crer que por apresentar dois tipos de probióticos seu efeito será melhor. Devemos ressaltar também que o modo de ação dos probióticos no organismo não foi totalmente esclarecido embora tenham sido sugeridos vários processos que podem atuar independentemente ou associados, como o caso da exclusão competitiva. Esse fato pode ser considerado como um convite aos cientistas a investigar as bactérias probióticas de forma mais aprofundada e com cuidado, buscando possíveis riscos toxicológicos e ou ainda ratificando sua eficiência e segurança.
Conclusão
Podemos concluir que apesar dos probióticos apresentarem efeitos benéficos como mostram as publicações científicas, ainda é necessário ter certa cautela quando faz-se alegações dos efeitos destes no organismo humano, sendo necessários estudos mais aprofundados de como estes atuam e sua segurança, além de um constante acompanhamento das agências reguladoras destes produtos afim de evitar possíveis abusos por parte dos fabricantes sobre a população que muitas vezes age pelo efeito do marketing.
Referências Bibliográficas:
ALMEIDA, F.H.S et al. Probióticos e seus Efeitos sob a Compreensão do Consumidor. Revista Científica da FAMINAS, Muriaé: v. 3, n. 1, p. 367,2007.
Fernanda P. Moraes; Luciane M. Colla. Alimentos funcionais e nutracêuticos: definições, legislação e benefícios à saúde. Revista Eletrônica de Farmácia Vol 3(2), 109-122, 2006.
Coppola, Mario de Menezes; Gil Turnes, Carlos. Probióticos e resposta imune. Ciência Rural, v. 34, n.4, jul-ago, 2004.
http://www.anvisa.gov.br/alimentos/legis/especifica/regutec.htm
http://www.fao.org/ag/agn/agns/micro_probiotics_en.asp
http://www.embrafarma.com.br/produtos/LactobacillusAcidophilus.pdf
http://www.batavo.com.br
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