Iogurte? É melhor comer uma fruta...
Saúde

Iogurte? É melhor comer uma fruta...


Por Danielle Braga


De todas as virtudes das fibras alimentares, a mais conhecida por quem busca uma dieta equilibrada é, sem dúvida, o bom funcionamento do intestino e a prevenção de doenças. Por este motivo, inúmeras marcas alimentícias vêm incorporando fibras aos seus produtos, objetivando atribuir propriedades funcionais e, conseqüentemente, atrair cada vez mais consumidores.
Um dos produtos mais conhecidos é o iogurte BioFibras, da marca Batavo, que alega possuir fibras solúveis e insolúveis em sua composição – além de dois probióticos –, sendo portanto, um bom alimento para prevenção de constipação e outras doenças.
Entretanto, ao analisar o rótulo e os ingredientes deste produto, nota-se que muitas informações estão incompletas ou, simplesmente, não foram declaradas pelo fabricante. Será que a quantidade de fibras presentes é capaz de produzir efeitos benéficos sobre o intestino? Bastaria beber uma garrafinha por dia e não se preocupar com a alimentação ou com hábitos saudáveis? Não seria melhor o consumo de alimentos não-processados, tais como frutas, cereais ou hortaliças, que, sabidamente, são ricas fontes de fibras?
O que impera, neste caso: praticidade ou bom senso?


A industrialização e a globalização exerceram grande influência sobre o estilo de vida, a dieta, e conseqüentemente, sobre o estado nutricional da população em geral. É cada vez mais freqüente a adoção de dietas inadequadas e redução da atividade física, resultando em doenças decorrentes tanto da deficiência, quanto do excesso de nutrientes.
Nesse contexto, o papel da alimentação equilibrada na manutenção da saúde tem despertado interesse na comunidade científica, sendo crescente o número de estudos que objetivam comprovar a atuação de certos alimentos na prevenção de doenças.
São os chamados alimentos funcionais. Apesar de o termo ter sido introduzido na década de 80, até hoje não existe uma definição universalmente aceita. Uma das mais completas descreve os alimentos funcionais como sendo “aqueles que beneficiam uma ou mais funções orgânicas, além da nutrição básica, contribuindo para melhorar o estado de saúde e bem-estar e/ou reduzir o risco de doenças”.

Objetivo. O presente trabalho objetiva avaliar os benefícios proporcionados pelas fibras alimentares, através da análise do iogurte BioFibras, da marca Batavo. Além disso, objetiva comparar o rótulo do alimento com a legislação vigente, a fim de esclarecer se o mesmo encontra-se de acordo com as disposições da ANVISA.


FIBRAS ALIMENTARES: DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO

Fibra alimentar, em sua definição mais ampla, consiste em um “polissacarídeo armazenado na célula da planta, e que não é digerido pelo intestino delgado humano, não fornecendo, portanto, energia”. Derivam-se, principalmente, de parede celular e de outras estruturas intercelulares dos vegetais, frutos e sementes, estando associadas a substâncias como proteínas, compostos inorgânicos, oxalatos, lignina, entre outros.

São classificadas em:
- Fibras solúveis: incluem as pectinas, gomas e mucilagens, e seus principais benefícios são: (a) retardo na absorção de glicose; (b) redução no esvaziamento gástrico (aumentando a saciedade); (c) redução nos níveis de colesterol sangüíneo; (d) prevenção contra câncer de intestino. Este tipo de fibra forma um gel em contato com a água, aumentando a viscosidade dos alimentos parcialmente digeridos no estômago.
- Fibras insolúveis: incluem a lignina e celulose, e promovem: (a) aumento do bolo fecal; (b) estímulo ao bom funcionamento intestinal; (c) prevenção de constipação intestinal. Estas fibras permanecem intactas através do trato gastrointestinal e aceleram o trânsito intestinal, devido à grande capacidade de reter água e distender a parede do cólon, facilitando a eliminação do bolo fecal.


Principais Efeitos Fisiológicos das Fibras Alimentares

Trato gastrointestinal superior: as fibras solúveis retardam o esvaziamento gástrico, diminuem o ritmo da absorção de carboidratos, e podem retardar ou reduzir a absorção de lipídios;
Ecologia do cólon: os frutooligossacarídeos e a inulina promovem a proliferação de bifidobactérias no cólon, levando a uma flora intestinal saudável e equilibrada;
Funções do intestino grosso: as fibras insolúveis aumentam o peso e a maciez das fezes, a freqüência da evacuação, e diminuem o tempo de trânsito no cólon, sendo estes efeitos mais pronunciados em pessoas com constipação;
Glicose e colesterol do sangue: as fibras solúveis melhoram a tolerância à glicose e reduzem os altos níveis de colesterol total e LDL no sangue.

O principal efeito buscado pelos consumidores é a prevenção da constipação intestinal, que é provocada pelo consumo insuficiente de fibras, mas também está associada à baixa ingestão de água e falta de atividade física. Além disso, estudos recentes sugerem que o consumo de fibras pode diminuir o risco de doenças cardiovasculares; reduzir a prevalência e incidência de diabetes mellitus; prevenir a obesidade; diminuir o risco de osteoporose; prevenir doenças cancerígenas; e reduzir o colesterol.


ANÁLISE DO RÓTULO DO PRODUTO E LEGISLAÇÃO

A partir da análise do rótulo do iogurte BioFibras, disponível em embalagem de 180g (garrafinha) e diversos sabores, percebe-se que este produto possui polidextrose e fibras de trigo em sua composição.
A polidextrose é uma substância obtida a partir da policondensação térmica a vácuo da glicose, apresentando propriedades semelhantes às das fibras solúveis. A fibra ou farelo de trigo, por sua vez, é a película externa indigerível deste grão, sendo constituída de celulose, que é uma fibra insolúvel.
A tabela de informação nutricional indica que cada porção de 180g fornece 5,4g de fibras alimentares, o que corresponde a 22% da necessidade diária deste nutriente. No entanto, o fabricante não declara a qual tipo de fibra esse valor corresponde, uma vez que não especifica a quantidade exata de polidextrose e fibras de trigo.
A revisão da ANVISA “Alimentos com Alegações de Propriedades Funcionais e/ou de Saúde, Novos Alimentos/ Ingredientes, Substâncias Bioativas e Probióticos”, mais especificamente o item “IX – Lista de alegações de propriedade funcional aprovadas”, (atualizada em julho/2008), dispõe que produtos contendo polidextrose podem ter a alegação correspondente, desde que atendam a dois requisitos específicos: (a) a porção do produto pronto para consumo forneça no mínimo (...) 1,5g de fibras se o alimento for líquido; (b) na tabela de informação nutricional deve ser declarada a quantidade de polidextrose, abaixo de fibras alimentares.
Este último item não foi declarado pelo fabricante, o que pode gerar dúvidas quanto a real quantidade de fibras presente no iogurte, deixando o consumidor sem saber se este alimento, por si só, é capaz de produzir efeitos benéficos sobre o organismo. Além disso, é comum o consumo exagerado de um determinado produto dito funcional, na tentativa de “aumentar” seus efeitos, o que pode causar sérios riscos à saúde.




CONCLUSÃO

Os crescentes relatos de doenças associadas tanto à falta, quanto ao excesso de determinados nutrientes, levaram a comunidade científica a intensificar os estudos sobre as propriedades funcionais dos alimentos.
Sabe-se que a deficiência de fibras pode levar ao aparecimento de patologias crônicas, tais como: constipação intestinal, doenças cardiovasculares e câncer de intestino. Entretanto, o consumo exagerado também é desaconselhado, pois pode interferir negativamente na absorção de minerais, especialmente cálcio e zinco.
Deste modo, o consumidor deve ter cautela. A tendência de consumo de alimentos processados pode prejudicar a ingestão diária de fibras. O processamento retira alguns nutrientes do alimento, incluindo as fibras. Além disso, alguns alimentos industrializados não fornecem informações suficientes sobre a quantidade de fibras presentes, o que pode confundir o consumidor.
Em alguns casos, é melhor consumir alimentos in natura, como frutas, legumes e verduras, que são ricas fontes de fibras e micronutrientes, além de ter baixa densidade energética. Os cereais integrais também constituem boas escolhas.
Por fim, embora muitos alimentos tenham propriedades funcionais comprovadas, nenhum substitui uma alimentação equilibrada e uma vida saudável, com a prática regular de atividades físicas.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

- Carvalho PGB; Machado CMM; Moretti CL; Fonseca, ME N. 2006. Hortaliças
como alimentos funcionais.
Horticultura Brasileira 24: 397-404.
- Moraes FP; Colla, LM. Alimentos funcionais e nutracêuticos: definições, legislação e benefícios à saúde. 2006. Revista Eletrônica de Farmácia Vol 3(2), 109-122.
- Site da ANVISA. Acesso em 10/12/11.
- Dossiê: Fibras Alimentares. 2008. Food Ingredients Brasil N.3. 42-65. Acesso em 10/12/11.




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