O ganho de peso e obesidade, por refletir não somente na estética, mas também na saúde, movimenta a indústria farmacêutica e alimentícia na busca de medicamentos, suplementos e alimentos que ajudem no controle de peso. Particularmente, a inclusão de alimentos com propriedades que influenciam a saciedade, a absorção de nutrientes e a composição da microbiota intestinal têm uma apelo mercadológico grande por serem estas as principais vias relacionadas com a dificuldade de perda de peso. Além disso, por se tratar de alimentos, acredita-se que a ocorrência de efeitos colaterais é menor.
A reportagem “Farinha emagrece” da revista Corpo a Corpo (edição 260 de 2010) destaca alguns alimentos que, quando transformados em farinhas, com a intenção de facilitar a inclusão dos mesmos nas refeições, podem ajudar na perda de peso. Obviamente, não é a inclusão pura e simples de uma dessas farinhas que emagrece, mas o conjunto de medidas e mudanças de hábitos associados ao consumo habitual das mesmas. Em geral, essas farinhas são ricas em fibras, que classicamente têm a maior fama de ajudar na saciedade em comparação aos produtos à base de farinhas refinadas, pobres em fibras. O diferencial delas é a presença de algumas substâncias com propriedades específicas.
De todos os tipos de feijões encontrados no mercado, o feijão branco, Phaseolus vulgaris, é o que menos está presente na mesa do brasileiro. Mas a presença de faseolamina, uma substância com capacidade in vitro de inibir a atividade da enzima alfa-amilase, tem sido a justificativa para o incentivo do seu consumo por aqueles que desejam perder peso ou mesmo melhorar o controle da glicose sanguínea. A alfa-amilase é uma enzima normalmente secretada na saliva e pelo pâncreas para digerir o amido presente nos alimentos fontes de carboidratos complexos (arroz, pão, macarrão, biscoitos, bolos, trigo, milho, batata), transformando-o em partículas menores que podem ser absorvidas e fornecer calorias para as células. O raciocínio dos pesquisadores é que a inibição dessa enzima, com o uso de “bloqueadores de amido”, preveniria a digestão desse tipo de carboidrato e, consequentemente, reduziria a absorção de glicose, potencialmente ajudando a promover a perda de peso e o controle da glicemia.
A maioria dos estudos mais atuais utiliza o extrato de feijão branco, no qual o feijão é moído, deixado de molho em água por algumas horas, e o líquido é filtrado e concentrado para administração em cápsulas e em doses de 1000-2000mg ao dia, associado ou não a alguma intervenção dietética. No entanto, embora os estudos mostrem uma tendência do grupo que utiliza o extrato a uma perda maior de peso e de medidas da cintura, principalmente entre os indivíduos que apresentam maior ingestão total de carboidratos, essa diferença não atinge significância estatística. Em estudos com animais, a diferença na glicose e perda de peso é significante, possivelmente porque utilizam doses do inibidor de alfa-amilase extraído e purificado do feijão branco, e não a farinha de feijão branco.
Portanto, apesar de ser um alimento, o feijão branco cru na forma de farinha pode promover alguns efeitos indesejáveis. É importante saber a procedência da farinha, a forma como ela é produzida, o quanto de substância ativa ela apresenta, se foi feita a partir do feijão cru, se existe alta atividade de inibidor de tripsina e lectinas e a quantidade a ser ingerida para obtenção dos efeitos desejados, sem prejuízos para a saúde intestinal. Além disso, estudos que comparam o uso habitual de feijão branco cozido com o consumo da farinha ou o extrato em cápsula seriam importantes para comprovar de fato esses mecanismos.
Assim, mais uma vez, é importante ressaltar que não podemos acreditar que exista uma pílula ou alimento milagroso. A reeducação alimentar com adoção de hábitos alimentares saudáveis é essencial para a promoção e manutenção do peso saudável, devendo sempre contar com a supervisão e orientação de um profissional capacitado.
*Texto elaborado pela Dra. Tatiana Fiche, aluna bolsista do curso de Pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional pela VP Consultoria Nutricional/ Divisão Ensino e Pesquisa.