O que o crossfit pode fazer por si? - Parte 2
Saúde

O que o crossfit pode fazer por si? - Parte 2



O meu artigo de ontem sobre o crossfit gerou bastante interesse entre os leitores e tivemos comentários muito ricos, os quais vos convido desde já a ler. Um em particular, do meu amigo José Vilaça, perito em exercício e professor no UTAD, merece ser destacado como o 2º guest post do Fat New World.


O que o crossfit pode fazer por si?

Por José Vilaça,

Eu como especialista, não no cross-fit, mas no treino, quer ele seja desportivo ou com outros fins (saúde, estéticos, etc), e na investigação científica, principalmente relacionada com o Treino de Força vou, após ler atentamente o teu post e o artigo referido, dar a minha humilde opinião.

1º - É de salutar a procura pelo conhecimento científico, relacionado com o Cross-Fit, por parte dos autores do artigo "Crossfit-based high intensity power training improves maximal aerobic fitness and body composition", e espero eu próprio e outros pesquisadores lhes sigam os passos;

2º - O Cross-Fit pode ser visto de duas formas distintas: como desporto; ou como metodologia de treino. Esta diferenciação é muito importante, porque:

i) enquanto modalidade desportiva, o objectivo é efectuar as competições e ser o melhor nos objectivos propostos. Contudo, muitos se esquecem do necessário para a preparação desportiva e para uma competição. Antes de chegar ao período competitivo, tem-se o período preparatório Geral e o período preparatório específico. No período preparatório geral o objectivo é dar bases ("alicerces") ao organismo para os desafios que lhes vão ser propostos, principalmente os do treino para a competição. Portanto nessa fase deve-se efectuar uma adaptação articular, muscular, tendinosa e cardiorespiratória ao treino. No período preparatório específico, ensinar e desenvolver as bases da modalidade. Como referiu o Hugo Castro, aprender a efectuar as técnicas dos levantamentos de peso olímpicos, os gestos gímnicos e afins que vai ser solicitado na competição e aumentar a performance nessas actividades. Por fim, no período competitivo desenvolver e preparar os atletas para chegarem à competição na sua forma desportiva possível. Portanto, para ser especíalista deste Desporto, tal como dos outros têm-se que ter conhecimento de Treino Desportivo, Fisiologia, Biomecânica, psicologia, prevenção de lesões e psicologia. Não me parece que conhecer o principio da variabilidade e deixar de parte o do tempo optimo de descanso, da progressão da carga e do planeamento, bem como todos os princípios biológicos, metodológicos e pedagógicos do treino desportivo, seja uma boa opção para quem quer ser treinador desta modalidade.

ii) enquanto metodologia de treino, temos muito que discutir e este estudo, embora com algumas debilidades, trás ao conhecimento alguns dos problemas do Cross-FIt, tal e qual ele é apresentado. Como eu já afirmei num dos posts do Sérgio, quem quer difundir esta modalidade ou método de treino, tem que ter cuidado com que afirma e como afirma. Custa-me ver o Cross-Fit rodeado por um marketing agressivo ou com uma defesa apaixonada. Enquanto a paixão eu compreenda e até aceito, pois é um sentimento irracional e de difícil de explicação, o marketing selvagem e sem principios, não o aceito e acho deplorável. A realidade é que a maioria dos profissionais utiliza unicamente todos os dias uma variedade de movimentos em explosividade, retirados do powerlifting, movimentos gimnicos e uma metodologia de treino em circuito. Se observamos vem os WOD e mesmo o do artigo, os movimentos solicitam quase sempre os mesmos grupos musculares e são efectuados em potência. Tal como constata o estudo, existe uma tendencia, tal como o treino é idealizado, em provocar lesão, 16% da amostra não concluiu o programa de treino, que não era tão longo quanto isso (10 semanas). A fadiga central e periférica, provocada por este tipo de treino, pode potenciar, em pessoas mal treinadas e mesmo naqueles bem treinados, que não fazem equilibrio muscular, podem potenciar lesões musculares e articulares na pratica de movimentos balísticos e explosivos praticados no Cross-Fit. A repetição constante dos mesmos gestos, levam a desequilíbrios musculares e consequentes lesões por excesso de uso. Portanto julgo que a metodologia de treino deve ser pensada e reflectida e mais estudos são precisos para detectar a melhor forma de a efectuar.

3 - quanto ao estudo. Este revela que existe um aumento do VO2max com o treino de alta intensidade. Esse é um aspecto já reconhecido pela ciência. O treino de alta intensidade e intervalado é superior no aumento do VO2max do que o treino continuo e de moderada intensidade. Portanto, julgo que uma das falhas do estudo é a falta de um grupo de controle ou que executasse outra metodologia de treino, ou modalidade, que também tenha como objectivo o desenvolvimento dessa variável. Igualmente, quanto à perca de massa gorda, a inexistência desse grupo ou grupos de comparação é uma das limitações do estudo. Outra limitação quanto à composição corporal é o método de avaliação que não é o mais apropiado e fiável. Estudos futuros deviam utilizar o DEXA. Igualmente, embora no estudo diga que os sujeitos efectuavam a dieta paleo antes e durante o estudo, essa dieta não está bem definida e se já a faziam antes como é que a sua percentagem de gordura corporal já era elevada, principalmente nos do sexo masculino. Portanto, ficamos sem saber se a redução na percentagem de gordura corporal tem haver com a dieta, com o treino ou com a combinação de ambos.

Para finalizar, embora haja muito mais para dizer, parece que eu sou contra o Cross-Fit. Mas não, eu adoro o Cross-Fit, acho uma modalidade interessante e motivadora, embora para passar a metodologia de treino precise ser melhor pensada e estudada. Portanto, Parabéns aos autores do estudo, ao Sérgio e a todos aqueles que procuram com esforço, trabalho, dedicação e honestidade desenvolver o mundo do fitness.

Fica uma sugestão, porquê que em vez de se fazer WOD diários não se faz uma competição semanal!



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