O sono, a melatonina, e o tecido adiposo castanho
Saúde

O sono, a melatonina, e o tecido adiposo castanho



Se há coisa que não me canso de sublinhar aqui no blog é a importância do sono na saúde em geral e no controlo metabólico do tecido adiposo. As ramificações da associação são várias e algumas delas poderão revisitar aqui. Um novo estudo publicado muito recentemente revela agora que a melatonina, hormona que regula o nosso sistema cronobiológico, o ritmo circadiano, tem influência na formação de células adiposas e no tipo metabólico, favorecendo a geração de células "castanhas", queimadoras por excelência de gordura e energia [link].

O tecido adiposo distingue-se em dois tipos: branco e castanho. O tecido adiposo branco é o mais comum e onde se acumula tudo aquilo que não queremos. É metabolicamente pouco reactivo, com poucas mitocondrias dissipadoras de energia. Por seu lado, o tecido adiposo castanho é uma fornalha viva que dissipa energia para produzir calor. O nome "castanho" deriva da sua aparência histológica, muito rico em mitocondrias que lhe conferem essa coloração característica. Além disso, distingue-se do tecido branco por uma acumulação multilocular de gordura, facilmente acessível, e não unilocular numa única "gotícula" de reserva. Estima-se que apenas 50 g deste tecido possa elevar a taxa metabólica em 20%. Durante muitos anos pensou-se que o tecido adiposo castanho não tinha qualquer expressão em humanos adultos, e que era perdido logo nos primeiros anos de vida. Mais tarde veio a descobrir-se que os adultos eram capazes de preservar uma quantidade variável na região subescapular e células difusas no tecido adiposo, e que isso poderia ter implicações no tratamento da obesidade. O tecido adiposo castanho é hoje a área de investigação mais promissora e "hot" no que respeita ao controlo de peso.

Apesar de se tratarem de dois tipos de tecido adiposo, a verdade é que não derivam do mesmo precursor. Enquanto os adipócitos brancos provém de um adipoblasto, o percursor dos adipócitos castanhos é o miobaslato, célula-mãe do tecido muscular, o que explica em parte a sua distinção metabólica. Não é possível transformar uma célula branca em castanha, mas consegue-se uma transdiferenciação das brancas para um fenótipo intermédio, as células "brite" (brown-white). Estas células "brite" exibem caraterísticas de ambos os tipos de adipócitos, com uma capacidade muito superior em dissipar energia. O estímulo à transdiferenciação nestas células pode ser o frio, o factor mais importante, catecolaminas,beta-agonistas, PCG-1alfa, entre outros. No fundo, esta transformação em células brite torna-os mais competentes no gasto de energia, aumentando assim a taxa metabólica.

Segundo os resultados do estudo que vos falei [link], a melatonina tem também uma palavra a dizer nesta transdiferenciação em células "brite". A administração de melatonina em ratinhos induz o aparecimento deste tecido em animais obesos e magros. Além disso, parece sensibilizar ao efeito termogénico do frio e potenciar o efeito térmico do exercício. No fundo promove um metabolismo mais "rápido" que favorece a perda de gordura.

A melatonina é a hormona do sono, que está diminuída em pessoas com um ritmo circadiano alterado (trabalho por turnos por exemplo), ou que dormem um número de horas insuficiente. A exposição a luz artificial até muito tarde também inibe a produção de melatonina. Esta associação é evidenciada pelo elevado risco de obesidade e doenças crónicas neste grupo. Nada de novo para quem segue o blog, mas uma questão muito importante e central na optimização metabólica que favorece a composição corporal. No que diz respeito à perda de peso, há outros aspectos a considerar que não a dieta e exercício. O sono, e o respeito pelo nosso biorritmo natural, são fulcrais para a manutenção de um metabolismo saudável e optimização da composição corporal.





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