Saúde
Um novo uso para o Viagra - perda de peso
Segundo um estudo publicado recentemente por uma equipa Alemã, o Viagra (sildenafil), fármaco utilizado para a disfunção eréctil, poderá também ajudar a perder gordura através da transformação do tecido adiposo branco em castanho e da sua activação como dissipador de energia. Estes resultados em modelos animais, a traduzirem-se para o Homem, são a resposta para um dos mecanismos mais estudados actualmente com implicação na perda de peso.
Existem dois tipos de adipócitos: os brancos e os castanhos. Enquanto que os primeiros são essencialmente depósitos de gordura, o tecido adiposo castanho é uma "fornalha" que dissipa energia produzindo calor. A UCP1, também conhecida como termogenina, está presente nos adipócitos castanhos e desacopla a produção de ATP nas mitocondrias. Desta forma, a energia contida nos nutrientes é libertada e não conservada sob a forma de gordura, aumentando assim o dispêndio energético.
Durante muito tempo se pensou que os adultos não tinham reservas consideráveis deste tecido. No entanto, estudos com populações Nórdicas afastaram esse paradigma. Apenas 50 g de tecido adiposo castanho podem representar até 20% do gasto energético! Uma das suas funções biológicas é claramente a protecção do frio, mas poderá também intervir na termogénese facultativa após refeições. Os dois tipos de tecido adiposo diferem bastante até a nível da expressão génica. Ao contrário dos adipócitos brancos, os castanhos possuem muitas mitocondrias que lhes dão a sua aparência característica ao microscópio. Na verdade, os adipócitos castanhos derivam de um percursor de célula muscular e não de adipócito, explicando-se assim estas diferenças tão acentuadas.
Nos humanos, o tecido castanho está confinado a uma região na base do pescoço. No entanto, existem evidências de uma transdiferenciação do adipócito branco em castanho que pode ser estimulada por factores como o frio, exposição crónica a catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) ou activação de elementos transcricionais como o PGC1-alfa. Esta transdiferenciação não é no entanto completa e os adipócitos assumem um fenótipo intermédio que designamos por "brite" (brown-white). Estima-se que, no tecido adiposo branco, 1 em cada 200 adipócitos possa ter estas características.
O tratamento de ratinhos com Viagra durante 7 dias aumentou os níveis de termogenina no tecido adiposo castanho e estimulou a transdiferenciação dos adipócitos brancos em "brite". As células gordas contêm uma enzima chamada cGMP-dependente Proteína Cinase I (PKGI) que é também um dos mecanismos de sinalização do Viagra. Sabia-se à partida que a estimulação desta enzima levava à transdiferenciação de adipócitos em cultura, pelo que a escolha do Viagra não foi ao acaso.
Infelizmente, a curta duração do estudo não deu para verificar se de facto houve perda de gordura nos animais. Mas os dados sugerem que um tratamento de longa duração poderia resultar para uma conversão branco - castanho ainda mais acentuada. Além disso, um estudo prévio de 12 semanas tinha já indiciado que o Viagra poderia promover perda de peso, embora sem apontar mecanismos para o efeito.
A transdiferenciação dos adipócitos em "brite" é neste momento alvo de pesquisas intensas por parte das melhores equipas de investigação. Apenas pequenas quantidades deste tecido são necessárias para aumentar significativamente o dispêndio energético. No entanto, este mecanismo carece de pesquisa em humanos e os tratamentos disponíveis até ao momento, como a exposição ao frio, não se têm revelado particularmente eficazes. Mas antes de ir à farmácia esgotar o stock de Viagra, lembre-se de que o seu uso crónico pode ter efeitos secundários sérios e que ainda estamos longe de traduzir estes resultados para a fisiologia humana.
Mitschke, M., Hoffmann, L., Gnad, T., Scholz, D., Kruithoff, K., Mayer, P., Haas, B., Sassmann, A., Pfeifer, A., & Kilic, A. (2013). Increased cGMP promotes healthy expansion and browning of white adipose tissue The FASEB Journal DOI:10.1096/fj.12-221580
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