Uma pesquisa feita na Suécia começou antes do advento do PSA. Ela se chama Scandinavian Prostate Cancer Group Study Number 4 e continua a produzir importantes conhecimentos. A amostra de quase setecentos pacientes foi aleatoriamente dividida em dois grupos: um foi acompanhado, mas não foi tratado; o outro foi operado. A presença do câncer foi detectada através do toque retal. Como o critério para incluir os pacientes em um ou outro grupo foi aleatório, podemos hipotetizar que os grupos eram semelhantes no início do estudo.
Durante o estudo, morreram 200 dos 347 operados e 247 dos 348 que nào foram tratados – somente acompanhados. Essas diferenças são muito significativas: o valor do chi-quadrado, 13,473 com um grau de liberdade, é significativo no nível de 0,0002. Não foi por acaso…
Outra conclusão dessa pesquisa é que pacientes com um cãncer inicial também se beneficiam com a cirurgia. Há um risco menor de morrer do câncer, particularmente se eles tiverem menos de 65 anos.
A pesquisadora Anna Bill-Axelson, da Universidade de Uppsala, afirmou que dezoito anos mais tarde, a cirurgia cortou o risco de morte devida ao câncer em 44%! Os mais jovens (menos de 65 anos) foram os grandes beneficiados: um risco de morte 55% menor.
Computando tudo, o risco de morte por qualquer causa foi 29% menor no grupo que fez a cirurgia. Essa foi a mortalidade geral. Por que não apenas a específica? Porque a cirurgia tem efeitos colaterais, além de seus próprios riscos. NÃO seria uma grande vantagem se morressem menos do câncer da próstata e mais de outras causas, de maneira que as mortes se compensariam. Não se compensam.
Os passos que revelam o avanço da doença também foram diferentes nos dois grupos: o risco de metástase distante foi 43% menor no grupo que fez a prostatectomia e a diferença, mais uma vez, foi maior entre os mais jovens (51% vs 32%). Mesmo os pacientes com risco pequeno ou intermediário se beneficiaram com a cirurgia, cortando o risco em 60% e 51%, respectivamente. Os pacientes com tumores avançados também tiveram uma redução no risco de metástases distantes (menos 19%), que não é estatisticamente significativo.
Outra diferença é se o câncer avançou a ponto de exigir o tratamento hormonal (ADT): 51% menos, com mais benefícios para os pacientes mais jovens.
Esses resultados mostram os ganhos em vida com a cirurgia, além das etapas intermediárias (uso de terapia hormonal, metástases distantes) e também mostram que os ganhos são maiores entre os pacientes mais jovens. Esses resultados se referem à sobrevivência e marcadores do avanço da doença dezoito anos depois (é, coincidentemente, o tempo que me separa da cirurgia).
GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ
Saiba mais: The New England Journal of Medicine(2014;370:932-942).